segunda-feira, 5 de julho de 2021

Resistência e violência contra a mulher em diferentes tempos- Professor e Historiador Eduardo Silva.







As fugas de escravos no século XIX eram punidas com violência que, muitas vezes, ultrapassava os limites permitidos pelo costume senhorial. Um caso interessante, é o da surra sofrida pela escrava Luíza, que resultou num extenso processo judicial, iniciado em 1868. Luiza, como destaca a fonte, tinha “o hábito inveterado de fugir”, e “havendo chegado de uma fugida em certa ocasião”, no dia 12 de fevereiro de 1868, levou uma surra de “chicote de arreio” nas nádegas. Ao que parece, o instrumento de suplício agravou ainda mais o castigo, provocando cortes nas suas nádegas. Agravou a tal ponto, que chamou a atenção do subdelegado de Correntes, termo de Garanhuns, que prendeu o agressor Eugênio de Mello. A escrava Luiza era propriedade de três senhores, mas só um deles, Eugênio de Mello, foi preso na cadeia da vila de Garanhuns, e processado. O interessante é perceber que Luiza tinha uma rotina de fugas, isso porque, como destaca a fonte, voltava para a casa dos seus proprietários, por vontade própria. Ao que tudo indica, cada escapadela era punida com um castigo mais intenso e prolongado. O que chama a atenção é que em 2017, 149 anos depois, o portal de notícias de Dárcio Rabêlo, de Arcoverde-PE, noticiava que uma “Mulher foi agredida, com um chicote pelo companheiro em Sertânia”. Ao que parece, a violência contra a mulher na nossa região com instrumentos de suplício perpassa o tempo da escravidão. No que diz respeito a resistência das mulheres, vale lembrar que elas não são passivas. Independentemente do tempo histórico, a resistência das mulheres se fez presente. Não custa lembrar, que ambas as mulheres identificadas nesse ensaio resistiram de alguma forma contra a violência. Fugindo consecutivamente, ou denunciando o agressor. Tendo em vista essa percepção, outros questionamentos começam a surgir. Tais como: a semelhança desses casos de violência são meras coincidências? Assim como no passado, o estigma da violência contra a mulher é recorrente? Por fim, este pequeno ensaio é resultado de algumas reflexões da minha dissertação de mestrado.


Mestre em História pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Especialista em Ensino de História pela FAVENI (Rede Futura de Ensino); É Licenciado em História pela Universidade de Pernambuco (UPE)/ Campus Garanhuns, onde desenvolveu pesquisa sobre a história da escravidão oitocentista no Agreste de Pernambuco. É autor do Trabalho de Conclusão de Curso intitulado “Agreste pernambucano: região, produção e propriedade cativa, 1822-1850”. Foi professor voluntário no Programa Institucional de Bolsas de Iniciação a Docência e ministrou como professor convidado, o Curso de Extensão Universitária “A liberdade conquistada: do fim do comércio Atlântico de escravos ao contexto do pós-abolição no Brasil” (2017). Atualmente desenvolve pesquisas com ênfase na História da escravidão no Agreste de Pernambuco.

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