quarta-feira, 27 de outubro de 2021

CEMITÉRIO: PALCO DE LÁGRIMAS E REFLEXÕES - MANOEL NETO TEIXEIRA

 








O principal cemitério de Garanhuns, o São Miguel, onde estão sepultadas celebridades da política, das artes, da cultura, do jornalismo e do empresariado da cidade, passa atualmente por grave crise quanto à limpeza e segurança: o mato e o lixo espalhados de canto e canto, túmulos e mausoléus invadidos e suas peças de bronze, alumínio, ferro, em forma de jarros, quadros e placas levados pelos ladrões, na ausência completa de vigilância noturna. Até os telhados de brasilite são extraídos e levados, reiteradamente, sem qualquer ação por parte da edilidade, a quem o “campo santo” está atrelado. Vamos ter, agora, um dos mais tristes Dia de Finados, quando os familiares costumam visitar os túmulos dos entes queridos.

Passei boa parte do tempo desses dias que antecedem ao Dia de Finados, lá no São Miguel, repondo o telhado extraído pela segunda vez, reinstalando peças e reforçando a segurança no que é possível do mausoléu onde repousam meus entes queridos, da primeira à quarta gerações. Suficiente para observar e documentar esse abandono em que se encontra o maior cemitério de Garanhuns. Entre os inúmeros túmulos violentados está o de Dominguinhos, celebridade da sanfona e da composição que brilhou nacionalmente. Repus pela segunda vez o telhado e outros danos causados ao túmulo da minha família.

Tempo suficiente para circular por entre túmulos e mausoléus de celebridades de Garanhuns, fazendo algumas anotações, face à importância dos que lá repousam, para a política, a cultura e a história da terra. Foram momentos de emoção e reflexão ao parar, por exemplo, frente ao túmulo da família Moraes, com os quais tive o privilégio de conviver e colher lições inapagáveis, antes de partir para o Recife: Raimundo Atanásio de Moraes e sua consorte Obdúlia Atanásio de Moraes, ele, odontólogo, vereador por vários mandatos, presidiu a Câmara Municipal, que leva hoje o seu nome, e os filhos Claudio Alves de Moraes (jornalista), Humberto Alves de Moraes (jornalista, político e cronista, vereador e vice-prefeito ao lado do prefeito Souto Dourado), e Maria de Lourdes de Moraes, minha professora no curso primário no Colégio Diocesano, anos 50.”Descansem em Deus e que a luz Divina os ilumine”.

Passo adiante e eis-me frente aos mausoléus da família Valença. No primeiro, e de maior extensão, repousam o casal Abílio Camilo Velença e sua consorte Emília da Mota Valença, e os filhos Abgar (padre), Almira, Arlinda, Alódia e Alcinda, de relevantes serviços prestados a Garanhuns e toda região agreste, no campo da educação e da cultura, conforme está registrado no livro de nossa autoria Garanhuns – Álbum do Novo Milênio (1811-2016): “Não se pode escrever a história do desenvolvimento educacional desta cidade, ao longo do século XX, sem o concurso dessas mestras que tanto contribuíram para a instrução de várias gerações, ao lado do seu irmão o carismático padre-monsenhor Adelmar da Mota Valença, cujo corpo repousa na Catedral de Garanhuns, ao lado dos bispos que também já estão noutra dimensão. Frente a esse extenso mausoléu está o do ex-prefeito (por dois mandatos) Amílcar da Mota Valença, dos mais aplaudidos e respeitados como homem público de toda região agreste. “Suas boas ações o conduziram ao Céu”.

No túmulo do meu tio, industrial do famoso vinho Galvão, Júlio Jacinto, está escrito: “Saudade do seu exemplo e amor”. No do meu querido pai, Henrique Jacinto da Silva, também conhecido pelo nome de “Zé Jacinto”, está escrito:

“O homem passa, mas permanece sua obra, seu exemplo de amor ao trabalho, à família e aos amigos, principalmente quando calcado na ética e na dignidade. Henrique Jacinto da Silva foi sempre assim, um facho a iluminar caminhos, estradas e veredas, Brasil afora.

Familiares e amigos – estes, são incontáveis, pelo Brasil que ele tão bem conheceu como peregrino da paz, do trabalho, do amor e da alegria, todos, uníssonos, nesta hora de dor e saudade eterna, elevamos nossas preces pelo pai, irmão e amigo desencarnado.

Caríssimo pai, esposo, avô, irmão, amigo Zé Jacinto: todos nós estamos sempre ao seu lado, pois a matéria passa, mas a união espiritual transcende os limites do nosso dia a dia e se projeta qual luz inapagável”. Repouse em paz”.

Cemitério, recanto de lágrimas, saudades e preces. Mesmo sujo e aspecto de abandono, o nosso São Miguel será palco dessas manifestações, nesse Dois de Novembro. Concluo com um poema da nossa série Multivisão, volume IV:

SAUDADE   

Saudade é bálsamo

Para homem e mulher

Embala silêncio, solidão

Mas querença requer.

 

Ela chega de repente

De forma inesperada

Alegra quem a sente

Dia, noite, madrugada.

 

Reduz as distâncias

Ataca em qualquer lugar

Sacia a dor da ausência

Para quem sabe amar.

(Manoel Neto Teixeira, jornalista e historiador, autor, dentre outras, da obra Pinto Ferreira, Vida e Obra, prêmio da Academia Pernambucana de Letras, categoria Ensaio, edição 2010, é membro da Academia Pernambucana de Letras Jurídicas, Cadeira 44). E-mail: polysneto@yahoo.com.br

quinta-feira, 14 de outubro de 2021

Templo sagrado de luz e saber - Ivo Tinô do Amaral



Recebi com alegria o convite para participar das comemorações alusivas aos 106 anos do Colégio Diocesano de Garanhuns e, com um aperto no coração, não poderei estar presente das solenidades comemorativas por estar me resguardando dessa pandemia, do alto dos meus 87 anos.

Grande parte desses anos foram dedicados ao Gigante da Praça da Bandeira, como chamávamos até alguns anos passados, a instituição a qual cheguei criança, trazido da localidade Salobro, no então distrito de Lajedo, pelo meu Pai Ismael Tinô e meu tio Bispo de Niterói - Rio de Janeiro, Dom João da Mata Amaral, fui entregue ao jovem Padre Adelmar da Mota Valença para ser aluno do internato do Colégio, em 8 de fevereiro de 1946.

Estudei, brinquei, desfilei, formei-me como aluno e como pessoa, depois voltei como Presidente da associação de ex-alunos para retribuir a quem me deu tanto e continuo assim fazendo dentro das minhas limitações até hoje.

Os anos se passaram e o padre se tornou monsenhor, depois encontrou o Pai Criador e virou nome de Praça, a criança se fez homem e admirador desse educador que só pensou em melhorar a vida dessas crianças. Evidentemente tenho saudades dos colegas, dos meus professores, dos amigos que fiz nessa jornada - alguns deles nem mais cá estão - mas nesse lapso temporal vivi grandes momentos e sei que a vida é assim...

O país e o mundo mudaram, as pessoas passaram, mas a instituição e seu lastro de ética, honradez e ensino de ponta permaneceram. Sob os olhares do Monsenhor Adelmar passaram as trajetórias de muitos meninos, e hoje, sob as marquises do Diocesano vemos os caminhos de meninos e meninas, jovens que enchem de orgulho nossa terra e o Colégio que amamos.

Eles são nosso futuro... e se a história se repete, que eles sejam felizes como fui. E que tenham um futuro brilhante, honrando as tradições e ensinamentos que nos guiaram por mais de um século.

Que Deus abençoe nossa comunidade cristã, os funcionários abnegados, professores, pais e alunos e ex-alunos e, ainda, ao nosso Bispo Dom Paulo Jackson, por manter viva a história de tradição, em um "novo" colégio! Ao novo Diretor Padre Aldo Mariano, nosso reconhecimento pelo esforço para que o Diocesano volte aos bons tempos.

Parabéns ao Colégio Diocesano pelos 106 anos dedicados à ciência e fé!

Abraços a todos,


Garanhuns, 12 de Outubro de 2021.








quarta-feira, 6 de outubro de 2021

SEM DÚVIDA, EMOÇÕES! - Luiz Gonzaga de Mattos

 








Em 1959, há 62 anos, o meu final de tarde era o momento de curtir a Rádio Mayrink Veiga, com Jair de Taumaturgo comandando o programa Hoje é Dia de Rock. Na abertura, a saudação aos serviços de alto-falante de Nova Iguaçu, Meyer, Parada de Lucas e de algumas praças da Zona Sul do Rio de Janeiro. Na seleção musical, o destaque para o Rei e Rainha do Rock, Sérgio Murilo e Cely Campello, com seus sucessos Marcianita e Estúpido Cupido. Desfilavam também Tony Campello, George Freedman, Demetrius, dentre outros. No quem é quem da música internacional, a briga entre Elvis Presley e Chubbi Checker, que agitava as paradas com o seu The Twist.
Dentre os novos surgia um garotão que embarcara na Bossa Nova com as músicas João e Maria e Fora de Tom nos vinil simples, 78 rpm, gravado na Polydor. Esse disco marcou o início da carreira de Roberto Carlos. Uma jornada de 62 anos com lugar de destaque no cenário musical brasileiro. No ano seguinte, novo 78 rotações. Nesses discos e no primeiro LP, músicas de Carlos Imperial que apostava no rapaz de Cachoeiro de Itapemirim. Em 1963 foi formada a parceria com Erasmo Carlos com o lançamento do LP Splish Splash.
Aí Roberto Carlos entrou na minha vida. Em 1964 saiu o Hoje é Dia de Rock e começou a Jovem Guarda dominando a atenção de adolescentes e jovens dispostos a lascar por aí beijos de sair faísca e com fogo que nem bombeiro poderia apagar.
Nesses anos todos nem sei se eu acompanhei RC ou ele que soube me acompanhar. A mim e a todos os admiradores de sua música. Uma caminhada que teve início com a doce Rosinha (Oh, Rosa, Rosinha/ Que bom seria se tu fosses minha/ Oh! Rosa, que coisa louca/ Seria dar um beijo em sua boca). Conheci a Rose numa viagem a Matinhos, com o ônibus descendo a Graciosa. O compacto simples rodava várias vezes ao dia na minha vitrola portátil, comprada n’A Musical, na XV com a Muricy. Mas o que vingou mesmo foi a sabedoria popular: amor de praia não sobe a serra. Esqueci a garota mas me lembro até hoje a letra da música.
Na vida de estudante, morando em república, o sábado era dia de festinha americana. Numa viagem ao Rio de Janeiro, em 1965, fiz uma peregrinação pelo comércio para comprar uma calça Lee. Se a Sears era americana e a calça, coqueluche da época, também era dos “Esteites” fui até lá. Dei com o nariz na porta. - Acho que você só vai comprar no Mercadinho Azul, em Copacabana. Na mosca! Uma galeria repleta de lojinhas com perfumes importados, brinquedos eletrônicos e lá no fundo do corredor, a minha sonhada calça Lee. Num dia desses mexendo no Google encontrei o Mercadinho Azul. Lá estava o depoimento de Carlinhos Lyra falando sobre a, compra da sua primeira Lee.
E o esforço valeu a pena. Nas festinhas lá estava eu, de Lee, desfilando num trânsito cheio de calças Far West, feitas com Brim Coringa pela Alpargatas. Botinha, cinturão com fivela em alto estilo e aquele jeans faziam o tipo “cheguei”. Falem o que quiserem, mas o sucesso era garantido. Entrei de sola no mundo do papo legal, pra frente, é uma brasa, mora?... Até me chamavam de pão.
Não tinha, naturalmente, o cavalinho rampante da Ferrari... mas cavalguei por muitas estradas coloridas.
Se ainda não existia o ficar tínhamos a paquera. E entre uma cuba libre ou Hifi, a busca pelo flerte passava pela lista das dez mais da Jovem Guarda. Lembro-me de uma delas que era infalível para os momentos finais da festa: A Garota do Baile. Preparava aquele olhar 43 e colocava foco no broto, passando a mensagem que era dada pelo RC: O baile vai terminar/E a última dança/ A última dança/ Já vai começar. E funcionava! - Ela entende o meu olhar/ Dispensou a multidão/ E eu pude então/ Com ela dançar.
Nesses anos tive casos em que me esqueci de tentar esquecer e resolvi querer por querer. Alguns foram detalhes tão pequenos, mas que representavam coisas muito grandes pra esquecer. Vejo agora que ainda estão presentes.
Como o detalhe que me tocava quando ouvia o refrão Eu voltei. Acho que só eu mesmo mudei. E pensei: Mas eu sempre fui assim/ Um boêmio, um sonhador/ Pela vida apaixonado.
Assim, se chorei ou se sorri o importante é que emoções eu vivi.

A DIVINA COMÉDIA E OS EMBATES POLITICOS - Manoel Neto


 








A Divina Comédia, de Dante Alighiere, clássico da literatura universal, concebida no século XIV, com dimensões nos campos histórico, mitológico, filosófico, religioso e político, compõe-se de três volumes versando sobre Inferno, Purgatório e Paraíso.

A obra abarca todos os sentimentos humanos – bons e maus -, com repercussão na vida real, aqui na terra, e além túmulo.

Nascido em Florença, em 1265, então cidade-estado republicana, com autonomia política e econômica, entreposto comercial e centro cultural da Itália, era berço de poetas e artistas.

Dante foi envolvido desde cedo pelos embates políticos de sua terra, assolada pelas disputas entre as correntes do Partido dos Guelfos e o Partido dos Gibelinos. A ponto de ter sido impelido a deixar definitivamente sua terra, passando a viver no exílio em Verona, Bolonha e Ravena.

O poema é narrado na primeira pessoa (o próprio autor), qual peregrino representante do homem medieval, espremido entre a cultura clássica e a tradição cristã, em busca de excelência moral e espiritual.

Escrita no italiano vulgar, da época, baseado no dialeto toscano, próximo ao italiano atual, o autor narra a própria caminhada, com paradas e observações das cenas que ocorrem nas três estações, classificadas pelo próprio texto bíblico como Inferno, Purgatório e Paraíso.

Levado pela mão do também poeta Virgílio, autor do clássico A Eneida, Dante conhece o Inferno e o Purgatório, onde encontra os pecadores que lá se encontram, para depois chegar ao Paraíso, onde abraçaria sua musa Beatriz.

Enquanto o Inferno responderia pela depressão do Mar Morto, onde todas as águas convergem, o Purgatório e o Paraíso são círculos concêntricos que, juntos, responderiam pela mecânica celestial.

Os cenários comentados pelo autor envolvem personagens bíblicos, do Antigo ao Novo Testamento, enquanto os personagens principais da obra são o próprio autor, que realiza uma jornada espiritual pelos três reinos do além-túmulo, e Virgílio, seu guia e mentor nessa empreitada.

Dante e Virgílio chegam ao vestíbulo do Inferno (que tem nove círculos). Entre o vestíbulo e o primeiro círculo está o rio Aqueronte, no qual se encontra Caronte, barqueiro que faz a travessia das almas.

Embora hesitante para conduzir os dois personagens, por serem aparentemente pesados, o barqueiro é convencido por Virgílio a realizar a empreitada, pois se trata de uma ordem celestial. Fazem a travessia e chegam ao Limbo, local onde as almas que não puderam escolher a Cristo, mas escolheram a virtude, vivem a vida que imaginaram ter após a morte.

“Na mitologia clássica, o Limbo não fica no Inferno, mas suspenso entre o Céu e o mundo dos mortos. Na poesia de Dante, não se tem uma noção precisa de como se chegar lá, pois o poeta desmaia no ante-inferno e quando acorda já está no Limbo, o primeiro círculo infernal”.

  Dante se reporta aos atritos que teve com o papa Bonifácio VIII, de quem se tornara opositor, tendo colocado o sumo pontífice no Inferno antes mesmo de sua morte.

A amargura do exílio está registrada em várias parte de a Divina Comédia, como no Canto-III do Inferno, referindo-se ao papa Celestino-V: “Depois disso reconheci uma sombra daquele que, por covardia, perpetrou a grande renúncia”.

Com base na tradução de José Pedro Xavier Pinheiro, editora Principis, edição 2020, transcrevemos a seguir as introduções às chegadas dos personagens ao Inferno, Purgatório e ao Paraiso.

O INFERNO

“Chegam os poetas à porta do Inferno, na qual estão escritas terríveis palavras. Entram e no vestíbulo encontram as almas dos ignavos, que não foram fieis a Deus nem rebeldes. Seguindo o caminho, chegam ao Aqueronte, onde está o barqueiro infernal, Caronte, que passa as almas dos danados à outra margem, para o suplício. Treme a terra, lampeja uma luz, e Dante cai sem sentidos!”. A seguir, os quatro primeiros versos do Canto-III:

Para mim se vai das dores à moradia,

Por mim se vai ao padecer eterno,

 Por mim se vai à gente condenada.

 

Moveu Justiça o Autor meu sempiterno,

Formado fui por divinal possança,

Sabedoria suma e amor supremo.

 

No existir, ser nenhum a mim se avança,

Não sendo eterno, e eu eternal perduro:

Deixai, ó vós que entrais, toda a esperança!

 

Estas palavras, em letreiro escuro,

Eu vi, por cima de uma porta escrito.

“Seu sentido”, disse eu, “Mestre me é duro”.

 

O PURGATÓRIO

Ao sair do Inferno, Dante respira novamente o ar puro e vê fulgentíssimas estrelas. Encontra-se na ilha do Purgatório. O guardião da ilha, Catão Uticense, pergunta aos dois poetas qual é o motivo da sua jornada. Logo após, ele os instrui relativamente ao que devem fazer, antes de iniciar a subida do monte”.

A seguir, os quatro primeiros cantos sobre o Purgatório:

 

Do engenho meu a barca as velas Solta

Para correr agora em mar jucundo,

E ao despiedoso pego a popa volta.

 

Aquele reino cantarei segundo,

Onde pela alma a dita é merecida

De ir ao céu livre do pecado imundo.

 

Ressurja ora a poesia amortecida,

Ó Santas Musas, a quem sou votado;

Unir ao canto meu seja servida.

 

Calíope o som alto e sublimado,

Que às Pegas esperar não permitira

Lhes fosse o atrevimento perdoado.

 

 

O PARAISO

“Invocando Apolo, o Poeta canta como do Paraíso Terrestre ele e Beatriz se alçaram ao Céu, atravessando a esfera do fogo. Beatriz explica-lhe como possa vencer o próprio peso e subir. É atraído pelo invencível amor.

“Seguindo as teorias de Ptolomeu, Dante põe a terra imóvel no centro do Universo e, ao redor dela, em órbitas concêntricas, os céus da Lua, de Mercúrio, de Venus, do Sol, de Marte, de Júpiter, de Saturno, a oitava esfera, que é a das estrelas fixas, a nona, ou primeiro móvel, e finalmente o Empíreo, que é imóvel. Transportado pela força que faz rodar os céus e pela luz sempre crescente de Beatriz, Dante eleva-se de um céu para outro, e em cada um deles aparecem-lhe os espíritos bem-aventurados que, quando vivos, possuíam a virtude própria do respectivo planeta”.

Os três primeiros cantos sobre o Paraíso:

 

À glória de quem tudo, aos seus acenos,

Move, o mundo penetra e resplandece,

Em umas partes mais em outras menos.

 

No céu onde sua luz mais aparece,

Portentos vi que referir, tornando,

Não sabe ou pode quem à terra desce;

 

Pois, ao excelso desejo se acercado,

A mente humana se aprofunda tanto

Que a memória se esvai, lembrar tentando.

 

(Manoel Neto Teixeira, jornalista e escritor, autor, dentre outras obras, da série MULTIVISÃO (já no oitavo volume), é membro da Academia de Letras de Garanhuns). E-mail: polysneto@yahoo.com.br


Donald Woods Winnicott(pediatra e psicanalista) - Meraldo Zisman, M.D.

 









Caçula e filho único masculino do casal John Frederick Winnicott e Elizabeth Martha Woods nascido em 7 de abril de 1896, recebeu o nome de Donald, que significa poderoso, vigo-roso. Winnicott pai dedicava tanto tempo aos negócios que parece ter passado muito poucas horas em casa, deixando seu filho rodeado por esse verdadeiro exército de mulheres: mãe, irmãs, tias, babá, governantas, cozinheira, copeiras e as diversas parentes. O menino Donald sentia-se tão confortável entre as mulheres que passava horas a fio na cozinha. Elizabeth Winnicott costumava reclamar que o jovem Donald desperdiçava muito tem¬po com a cozinheira. “Referia-se às mulheres parentas e serventes como suas múltiplas mães”.
Em particular, as empregadas exerceram um papel vital no desenvolvimento de Donald Winnicott. “Anos mais tarde, ele recomendaria a alguns de seus pacientes que passassem mais tempo no andar de baixo”, com a equipe doméstica, como parte do tratamento. Presumivelmente, ele sabia que os empregados muitas vezes têm mais tempo e sensibilidade para com crianças que os pais biológicos. Era menino totalmente envolvido por mães e virtualmente privado de um pai. Parece ter marcado de forma indelével o desenvolvimento psicológico de Winnicott, nele gerando uma forte identificação feminina. Sentia-se protegido e seguro, e essa estabilidade emocional propiciou-lhe uma fundação solida para uma vida adulta firme, produtiva e criativa. A inf&acir c;ncia de Winnicott estimulou nele um grande fascínio pelo mundo interno feminino - interesse que acabou se tornando o trabal ho ao qual dedicaria a sua vida. Como profissional, passou mais de quarenta anos explorando e pesquisando a essência da maternidade e a relação entre a criança e a mãe. De fato, de um modo ou de outro o jovem Donald Winnicott estava sempre se confrontando com a natureza feminina.
        Apesar de que Winnicott tenha desenvolvido um senso de masculinidade relativamente firme, falava com uma voz aguda e levemente estridente. Detestava o som de sua própria voz - o legado de uma infância repleta de um número excessivo de mulheres. Em seu livro Clinica Notes on Disorders of Childhood, Winnicott (1931a, p. 119) ressalta que "Às vezes, um menino na puberdade não consegue utilizar o novo poder de sua fala masculina, falando em falsete ou imitando, inconscientemente, a voz de uma menina ou mulher que conhece".
        A teoria psicanalítica clássica concentrou-se sempre na psicanalítica clássica concentrou-se sempre na posição da criança com relação a ambos os pais. O drama de Édipo da teoria freudiana requer três participantes: mãe, pai e filho.  Winnicott, no entanto, escreveu muito pouco sobre a figura paterna; a maior parte de seu trabalho é centrada apenas na mãe e no bebê. Sem dúvida, a ênfase que ele dedicou à figura materna - sua contribuição vital para a pesquisa psicanalítica - derivou dos fortes laços entre Winnicott e as mulheres que cuidavam dele. Escreve sobre mães e bebês com tamanha intimidade que as, pessoa s imaginam que ele pessoalmente amamentou várias crianças. (fragmento biográfico baseado no Capítulo do livro “D.W.Winnicott-Um Ret rato Biográfico”, de Brett).

segunda-feira, 4 de outubro de 2021

É mais a vida - João Marques

 










Deus me conhece

que não me conheço

completamente, eu sei

e da existência existir

não é tudo, que é mais

a vida do encanto

de sentir que é

 

mais que tudo que se conhece

mais que as estrelas

e como é o pequeno ser

um raio só de luz

e mais que os passarinhos,

que revoam o alto.