A
emergência da figura paterna, em nossa civilização, é tardia. As sociedades
primitivas eram matriarcais. A educação das crianças era entregue ao tio
materno, e o pai biológico não tinha ascendência sobre os filhos naturais. A
concepção biológica dos filhos e filhas era atribuída aos espíritos que,
periodicamente, fecundavam as mulheres. A descendência era matrilinear. As
mulheres mandavam; os homens obedeciam. Até o surgimento da família monogâmica
e patriarcal, as coisas continuaram assim. A partir da ciência do seu concurso
genético, os homens passaram a mandar.
Em lugar do afeto e do cuidado, surgiu o temor e a obediência. O amor
paterno passou a ser condicionado pela certeza genética dos filhos.
Instituiu-se a monogamia, o incesto e o tabu da virgindade. Da horda, passamos
à família patriarcal, com a sujeição da mulher, dos homens e da natureza. O
ser-do-cuidado, que caracteriza a essência do amor aos filhos, as pessoas e a
natureza é de índole feminina, não masculina. E a evolução psicológica da humanidade
passou pelo assassinato psicanalítico da figura paterna e a superação do
sentimento de culpa dos filhos.
Mas
perdurou na espécie como memória do parricídio original. De lá para cá
tornou-se o complexo de édipo que se trasladou nas ditaduras e revoluções sem
fim. O sentimento ambíguo de amor e ódio dos filhos em relação aos pais
levou-nos ora a amá-los e admira-los. Ora a querermos substitui-los.
A
civilização do futuro deve diluir a figura paterna nas relações de amor e cuidado de uns com os outros.
Produzindo uma civilização mais feminina, a par das mudanças que vem ocorrendo
com a própria organização familiar: famílias monoparentais, homossexuais,
comunitárias, A figura paterna será relativizada em prol de uma comunidade
afetiva que cuide e proteja todas as crianças, não só nossos filhos.
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