sexta-feira, 20 de novembro de 2020

Incrível: Kondras Kanillis está em Panelas! - José Alexandre Saraiva


            







Nada mais me espanta nesse mundo de surpresas inimagináveis! Principalmente depois que o Gerson Bientinez driblou a turma aqui em baixo e se mandou para a cobertura, a convite de amigos que lá se instalaram antes, entre eles Waltel Branco, Tatara, Saul Trumpet, Daniel Saxofonista, Ivo Rodrigues e Ivan Graciano.

Pois bem. Os leitores mais antigos da Gazeta do Povo lembram-se bem do guru Kondras Kanillis, o marinheiro grego que, inexplicavelmente, foi parar na mística e histórica Lapa, recanto paranaense sem ligação com o mar. A cidade ganhou notoriedade nacional no chamado Cerco da Lapa, por resistir heroicamente ao exército de Gumercindo Saraiva, em 1894, no auge da Revolução Federalista, retardando a marcha dos maragatos. Tanto pelo passado aguerrido do seu povo quanto pelos vultos de homens ilustres que legou ao mundo, a Lapa tem lugar de destaque nas páginas da História.

Vamos à última do Kondras Kanillis. Como se sabe, ele tinha como único confidente o jornalista Antonio Carlos Lacerda, o querido Caco, que fazia desfilar em sua coluna “O fato político” reflexões do sábio marinheiro sobre filosofia e política. Entre as qualidades do Kondras, ele nunca errou um resultado das urnas. Um dia, assim como surgiu, do nada sumiu da Lapa, juntamente com seu secretário especial, Osnírio.  

 Eis que hoje pela manhã o Caco me telefona para dizer que recebeu uma carta do Kondras. 

Garantiu-me que ele está morando na minha terra natal, Panelas, nome oficial de Labiata. O município está localizado numa área serrana do interior de Pernambuco, entre a zona da mata sul e o agreste. A região está muito mais para o sertão do que para o mar. Ainda segundo Caco, Kondras adquiriu lá um sítio entre os lugares Queimada do Milho e Feijão, próximo às vilas de Cruzes e São Lázaro. Ele continua o marinheiro terrestre de sempre, viajando em busca de si mesmo. Disse ao Caco que no seu retorno à Grécia vivenciou uma experiência desagradável com o ex-amigo Onassis, por causa de uma ciumeira idiota daquele armador bilionário, que alimentava desconfiança com a atenção que a Jacqueline Kennedy Onassis lhe dispensava. Chateado, resolveu refugiar-se num lugar que, além de ficar longe do mar, não deveria existir no mapa. À época, com auxílio da Nasa, descobriu Panelas. Kondras sempre quis conhecer Panelas. De acordo com Caco, o guru tinha três motivos para essa aventura. Primeiro, entender melhor a Guerra dos Cabanos, ali travada na década de 1830. Segundo, concluir um estudo sobre o movimento migratório dos holandeses que se refugiaram no interior nordestino durante a perseguição portuguesa. O sítio Feijão teria sido o esconderijo predileto deles no município. Terceiro, curiosidade para saber se o topônimo Panelas tem origem na descoberta de igaçabas indígenas no sopé da Serra da Bica (por isso, o primeiro nome, Olho D’Água das Panelas) ou no fato de a cidade localizar-se entre três serras (da Bica, dos Timóteo e do Boqueirão), cujos formatos lembrariam trempes de uma panela. Kondras descartou de plano essa segunda  possibilidade. As supostas trempes, na melhor das hipóteses, estariam ligadas a uma só panela (no singular).  

Numa deferência especial, ontem à noite Caco me enviou por Whatsapp o trecho final da carta de Kondras. Por coincidência, fala do momento político em Panelas:

“Aqui, depois de muito tempo, haverá renovação política. Tudo porque o líder do grupo que comanda o município há 25 anos andou cometendo erros primários e imperdoáveis. São exemplos: 1. Em um programa de rádio, chamou de hiena o povo da oposição, e os professores, de incautos. Chamar o povo de hiena na terra que realiza a maior corrida de jericos do Brasil é ofensa que nem o próprio jumento pode aceitar. Por outro lado, os professores são bem conceituados. 2. Sem licença ambiental, aterrou o açude da cidade, um belo patrimônio paisagístico e memorialístico. Aterrar um açude no Nordeste é vilipêndio à Natureza que só perde para o crime de matar uma vaca na Índia, onde é considerada animal sagrado. Se lá, na Índia, a vaca é dádiva de Deus, podendo passear livremente pelas ruas, aqui no Nordeste do Padre Cícero Romão Batista nada mais sagrado do que ver água deslizando no leito de um rio, ainda mais se ele tem histórico de enchentes caudalosas, como o Rio Panelas, que tantas vacas já dessedentou. 3. Em áudio vasado no Whatsapp, ele, que é de fora, mandou recado para um opositor afastar-se do seu caminho. Ora, todos os caminhos do município de Panelas são dos panelenses, nativos ou adotivos, como é o meu caso e do Osnírio (aqui chamado de “Galego” por causa da aparência de polaco). 4. Trocou, sem autorização legal, o nome da tradicional Praça Dr. Manoel Borba (que homenageia um dos mais ilustres pernambucanos), para agradar a família de outro político. Agiu como se denominações de praças e logradouros públicos tivessem caráter provisório e não dependessem de lei. 5. Num surto raivoso, danificou, pessoalmente, instalações do açougue público, outro símbolo da cidade. 6. Permitiu que sua candidata à reeleição insistisse em dizer publicamente que é laranja dele. Nesses dias de campanha, ela se empolgou e foi além: proclamou que tem orgulho pessoal de ser laranja e salada mista do padrinho político! Uma confissão nunca vista antes, nem na Grécia, berço da filosofia e da democracia, nem no restante do mundo ocidental!”

Kondras prossegue: 

“Sei que já estou te cansando nesta nota final da carta, mas é preciso deixar cravado, a bem da minha reputação, que a eleição deste ano em Panelas será decidida pelos estudantes e pela massa de jovens que há muitos anos não têm oportunidade de emprego. Boa parte do eleitorado vota na situação para não perder um miserável auxílio de 300 dinheiros. Esse contingente de votos é grande, mas insuficiente para suplantar o restante do eleitorado, independente e progressista, hoje empenhado na libertação de um sistema político-administrativo guiado pelo mandonismo e pelo assistencialismo. Por isso mesmo, nos bastidores da política, onde Osnírio transita com liberdade (minha luneta sonora registra tudo do alto da Serra dos Timóteo), fala-se que, tão logo seja conhecido o resultado das eleições, será necessário criar uma equipe de transição só para regularizar a situação dos contratos irregulares. De fato, em vez de uma ação de caça às bruxas, urge valorizar o servidor dedicado e competente. De acordo com Ruben, o futuro prefeito, que é um advogado jovem, líder dos trabalhadores rurais, humilde, sereno e conciliador, todos são, como ele, filhos da terra. Portanto, uma dispensa generalizada dos funcionários apadrinhados está descartada. Segundo ele, é preciso separar o joio do trigo para não causar comoção social, tamanha é a quantidade de funcionários sem concurso que dependem da prefeitura para sustentar a família. A melhor política é fazer valer a meritocracia.

Sobre o Osnírio:

O Osnírio anda meio besta! E isto desde a conclusão de um curso de culinária em Paris – o que, diga-se de passagem, me levou à obesidade, pois ele continua fazendo a comida mais saborosa da terra e dos mares por onde já navegamos. Não bastando, passou a se achar filólogo do dialeto matuto. Está terminando um dicionário com expressões e vocábulos locais, do tipo: “eita bixiga”, “pra mode”, “oxente”, "vixi", fidapeste”, “inhô”, “priquita”, “quenga”, “trubufu”, “pra tu, visse!”, “fidirrapariga”, “mangar”, “amulegar”, “abufelado”, “tabaca”, “tabica”, “cambito”, “xêxo”, “amudiçado”, “inxirido”, “bilola”, “cachete”, “cafuçu” “entonce”, “cambuta” e quejandos. Pasme: também quer me dar lição de política! Diz que a eleição em Panelas pode ser decidida na zona rural, um território realmente imenso (apenas 10% menor que toda a área do município de Curitiba). Foi nele que a Nasa resolveu deixar o meu iate, onde moro, já que o açude virou esgoto a céu aberto.  O Osnírio diz isso (que a eleição será decidida na zona rural) porque, conforme a estação do ano, a quantidade de cabrestos nos sítios supera as favas e os jerimuns que nascem nos roçados. Nesse ponto ele tem razão, mas comete um erro vitando: os matutos fizeram muitos filhos nesses últimos 25 anos. Os jovens, como é próprio da idade, são rebeldes, alimentam sonhos, são inovadores. E graças à internet, estão com as mentes afinadas com a “alegoria da caverna”, do compatriota Platão, nascido em Atenas. Esse sentimento de libertação ganhou impulso excepcional com a recente e emblemática adesão da ex-diretora de turismo da prefeitura, Elielma Santos, ao programa de governo do futuro prefeito. Ela, de conduta retilínea, formada em História e fotógrafa apaixonada pela Natureza, desfruta de muito prestígio no município. Além desse mar de água fria nas pretensões da situação, o movimento pró-renovação ganhou vigor poético e musical a partir da circulação de um vídeo com o canto “Brio Cabano”, do poeta Biu Difulô. A propósito (e para deixar Platão de queixo caído), um dos versos remete à minha brava Esparta. Veja:   

NOSSO SANGUE É CABANO

TEMOS NA VEIA MUITO ARDOR

NOSSOS PUNHOS ESPARTANOS

NUNCA TEMERAM O INVASOR

NOSSOS BRIOS DE GUERREIRO

QUE A HISTÓRIA JÁ PROVOU

JAMAIS SE VENDEM À TIRANIA

TÊM VIRTUDE E ESPLENDOR.  


Fico por aqui, visse! (rsrsrs). 

Xêro do KK.”

..............................................................

Como se vê, eu morro e não vejo tudo. Kondras Kanillis em Panelas!

Sem comentários:

Enviar um comentário