Abaixo,
homenagem dos escritores Manoel Neto, João Marques e Edson Mendes.
De Manoel Neto
Convivemos
com Tarcísio, nos corredores da Livro-Sete, ele nos atendendo sempre com
sorriso e fidalguia. Era capaz de discorrer com maestria sobre o conteúdo da
obra de autores ali expostos, fossem nacionais ou de outras línguas. Mais do que
um vendedor, ser polido e amigo de todos. Horário largo abrangendo os três turnos,
muita gente fazia "plantão" nos espaços da Livro Sete, sempre
acolhedor, onde éramos recebidos com um abraço sincero e amigo de Tarcísio. Ele
parecia absorver a espiritualidade que emanava de cada autor ali exposto. Criatura
e criador, eis como se fundiam Tarcísio/Livro-Sete. Ares da autêntica cultura
nordestina. Era comum ouvirmos o vozeirão de Tarcísio que parecia mais ser um
daqueles que se projetavam nas emissoras de rádio e tv "a antiga". Partiram mas deixaram a
lembrança e saudade de um tempo que insiste em permanecer nas mentes e corações
dos assíduos frequentadores da sempre LivroSete.
De João Marques
Homenagem a Tarcísio Pereira
Tarcísio da Livro Sete
tanto sete que se conte
e à soma não compete
resultado que aponte
os livros que vendeu...
toda bondade que fez
a vida que promoveu
com a sua sensatez
e se agora morreu
não é isso tanto mal
seu sete não pereceu
Tarcísio é imortal.
De Edson Mendes
Adeus, Tarcísio
Uma
vez eu disse a Tarcísio: Caso me encontrem no Bar Real igualmente o velho
Maria, nem precisa me acordar, estarei dormindo – profundamente, doucement.
Faço questão apenas de duas coisas: que o enterro seja às 3 da tarde, e que
minha playlist toque ininterruptamente... Peço ainda que, na saída do féretro,
haja uma parada no Pirata, para um discurso de saudade. Com os pés já no outro
mundo, quero ver com estes olhos, que a terra vai comer, algumas mulheres que
amei – damas, ladies, costureiras, prostitutas, senhoras – sei que são apenas
ectoplasma, mas ectoplasma também tem alma, não é?
Ele
riu muito quando acrescentei: “Seu Tarcísio Pereira será o mestre de
cerimônias. O Rei do Brasil, em se falando de Livrarias, pagará as pacas caras,
e as baratas também, algumas biritas e lauto farnel, com o meu cartão Credisete
17.0101-26451.07, vencido em janeiro/89 – mas isso é lá com ele!”
E aí
ontem resolve Tarcísio se adiantar e seguir viagem antes de nós, que o amamos
fraternalmente, visceralmente, como se ama um pai, um filho, um irmão - um
homem digno, generoso, amoroso, carinhoso, empreendedor, idealista, íntegro,
honesto, que, na selva escura de nossos dias manteve puros e limpos e claros
seus pensamentos, palavras e obras.
Na
cobertura inicial de certa mídia, bisonha e pífia, barrigas narizes e gavetas
roubaram-lhe espaço, e aos poucos segundos de cenho franzido logo se sucederam
os sorrisos e esgares das próximas notícias. Mas sabemos, oh! como sabemos, o
quanto essas fugazes efemérides são apenas fugazes e efêmeras. Tarcísio Pereira
ficará para sempre no panteão dos grandes, e em todo o país eu sei que a esta
hora sua morte nos comove e seu exemplo, que moveu a tantos, continuará luzindo
no céu dos inesquecíveis, na lembrança fiel dos amigos, dos autores, dos
leitores , dos livreiros, da arte, da cultura - nas orelhas, nas folhas, nas
páginas, nos colofões dos livros que tanto amou e aos quais dedicou toda sua
vida.
Dona
Cecita e Júlia me disseram que ele estava melhor, e aí eu falei: “Dê um beijo
nele, viu? Vamos comemorar. E esperar o dia certo para tomar vacina com cerveja
- ou guaraná!” No dia 22 de dezembro, mandei pra ele esta mensagenzinha de
Natal, mas ele não viu. Mando agora de novo, outra vez...
“canção de natal
enquanto você se lembrar de mim
eu viverei
enquanto eu me lembrar de você
seremos felizes
a vida é um jardim
e os amores são flores
todas as sementes
germinam
como disse frida:
eu
pinto flores para que elas não morram”
Adeus, Tarcísio. Até outro dia.
Edson
Mendes
Recife,
22.12.2020
Recife,
26.01.2021