sexta-feira, 5 de fevereiro de 2021

IMORTAIS TARCÍSIO PEREIRA E A LIVRO-7

 




Abaixo, homenagem dos escritores Manoel Neto, João Marques e Edson Mendes. 


 De Manoel Neto                                             

Convivemos com Tarcísio, nos corredores da Livro-Sete, ele nos atendendo sempre com sorriso e fidalguia. Era capaz de discorrer com maestria sobre o conteúdo da obra de autores ali expostos, fossem nacionais ou de outras línguas. Mais do que um vendedor, ser polido e amigo de todos. Horário largo abrangendo os três turnos, muita gente fazia "plantão" nos espaços da Livro Sete, sempre acolhedor, onde éramos recebidos com um abraço sincero e amigo de Tarcísio. Ele parecia absorver a espiritualidade que emanava de cada autor ali exposto. Criatura e criador, eis como se fundiam Tarcísio/Livro-Sete. Ares da autêntica cultura nordestina. Era comum ouvirmos o vozeirão de Tarcísio que parecia mais ser um daqueles que se projetavam nas emissoras de rádio e tv  "a antiga". Partiram mas deixaram a lembrança e saudade de um tempo que insiste em permanecer nas mentes e corações dos assíduos frequentadores da sempre LivroSete.


De João Marques

Homenagem a Tarcísio Pereira

 

Tarcísio da Livro Sete

tanto sete que se conte

e à soma não compete

resultado que aponte

os livros que vendeu...

toda bondade que fez

a vida que promoveu  

com a sua sensatez

e se agora morreu

não é isso tanto mal

seu sete não pereceu

Tarcísio é imortal.


De Edson Mendes

Adeus, Tarcísio

Uma vez eu disse a Tarcísio: Caso me encontrem no Bar Real igualmente o velho Maria, nem precisa me acordar, estarei dormindo – profundamente, doucement. Faço questão apenas de duas coisas: que o enterro seja às 3 da tarde, e que minha playlist toque ininterruptamente... Peço ainda que, na saída do féretro, haja uma parada no Pirata, para um discurso de saudade. Com os pés já no outro mundo, quero ver com estes olhos, que a terra vai comer, algumas mulheres que amei – damas, ladies, costureiras, prostitutas, senhoras – sei que são apenas ectoplasma, mas ectoplasma também tem alma, não é?

Ele riu muito quando acrescentei: “Seu Tarcísio Pereira será o mestre de cerimônias. O Rei do Brasil, em se falando de Livrarias, pagará as pacas caras, e as baratas também, algumas biritas e lauto farnel, com o meu cartão Credisete 17.0101-26451.07, vencido em janeiro/89 – mas isso é lá com ele!”

E aí ontem resolve Tarcísio se adiantar e seguir viagem antes de nós, que o amamos fraternalmente, visceralmente, como se ama um pai, um filho, um irmão - um homem digno, generoso, amoroso, carinhoso, empreendedor, idealista, íntegro, honesto, que, na selva escura de nossos dias manteve puros e limpos e claros seus pensamentos, palavras e obras.

Na cobertura inicial de certa mídia, bisonha e pífia, barrigas narizes e gavetas roubaram-lhe espaço, e aos poucos segundos de cenho franzido logo se sucederam os sorrisos e esgares das próximas notícias. Mas sabemos, oh! como sabemos, o quanto essas fugazes efemérides são apenas fugazes e efêmeras. Tarcísio Pereira ficará para sempre no panteão dos grandes, e em todo o país eu sei que a esta hora sua morte nos comove e seu exemplo, que moveu a tantos, continuará luzindo no céu dos inesquecíveis, na lembrança fiel dos amigos, dos autores, dos leitores , dos livreiros, da arte, da cultura - nas orelhas, nas folhas, nas páginas, nos colofões dos livros que tanto amou e aos quais dedicou toda sua vida.

Dona Cecita e Júlia me disseram que ele estava melhor, e aí eu falei: “Dê um beijo nele, viu? Vamos comemorar. E esperar o dia certo para tomar vacina com cerveja - ou guaraná!” No dia 22 de dezembro, mandei pra ele esta mensagenzinha de Natal, mas ele não viu. Mando agora de novo, outra vez...

“canção de natal

enquanto você se lembrar de mim

eu viverei

enquanto eu me lembrar de você

seremos felizes

a vida é um jardim

e os amores são flores

todas as sementes

germinam

como disse frida:

eu pinto flores para que elas não morram”

 

Adeus, Tarcísio. Até outro dia.

Edson Mendes

Recife, 22.12.2020

Recife, 26.01.2021

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