Nas
enchentes dos rios, as ramagens sobre as águas vão, mansamente, se encostando
aqui e ali. Assim parece ser a memória. O tempo vai acumulando momentos em
nossas vidas e, de um instante para outro, recordações vão chegando e se
aninhando naquela curva chamada saudade. Se num rio o redemoinho das águas dá
espaço por pouco tempo ao que chega, o atropelo do dia a dia vai limpando a
curva da saudade. Ontem, sem agito nesses dias
quarentenais, ocupei o tempo vendo antigos escritos e velhas fotos com
personagens que sacudiram a ramagem das curvas da saudade e se mostraram vivas
em minha memória.
Lembrei-me de uma “hora da saudade” com amigos de
adolescência e juventude da cidade de Sengés, no interior paranaense. Como
local do encontro, marcamos a cidade de Ponta Grossa para facilitar a presença
da maioria do grupo. No início de maio, há oito anos, nos reunimos. Vai aqui um
excerto do texto escrito após a confraternização:
Assim é a saudade verdadeira. E não poderia ser
diferente ao vermos nossos amigos de uma época saudosa. Por isso tudo valeu a
pena nosso encontro. Momentos em que fomos transportados para outros tempos,
onde a nossa preocupação não era com o amanhã. Vivíamos o hoje, curtíamos o
agora e hoje sofremos com o ontem. Porque trazer a saudade no peito é estar
onde não podemos estar. E isto, ao voltar à realidade, vemos que os cachos
dourados dos cabelos do Jamil foram tomados pela calvície; o tapete do Tico
desapareceu completamente... Assim é a vida. E essa vida nos dá satisfação
quando podemos rever amigos. Daí, ao vivo, sai aquela imagem desbotada pelo
tempo e ressurge com esplendor a da convivência. Como se o tempo não tivesse
passado. Quando inexiste o binômio saudade-amizade é porque não havia amigo.
Aí, sim, a saudade machuca. Felizmente deste mal não sofremos. Abraços a cada
um de vocês que me deram o prazer deste encontro. Até o próximo!
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