Immanuel Kant escreveu
algumas das principais obras filosóficas da Modernidade. Personalidade
influente no meio intelectual de sua cidade e membro da Real Academia das
Ciências de Berlim, curiosamente, o pensador nunca saiu de sua cidade natal,
Königsberg.
Kant fundou uma nova teoria
do conhecimento, chamada idealismo transcendental, e a sua filosofia, como um
todo, fundou o criticismo, corrente crítica do saber filosófico que visava,
como queria Kant, a delimitar os limites do conhecimento humano.
As obras de Kant possuem
uma rara erudição, um estilo literário único e um rigor metodológico
e filosófico inigualável. Professor da Universidade de Königsberg por
quase cinco décadas, o docente e pesquisador dedicou-se a escrever sobre Lógica, Metafísica, Teoria do Conhecimento, Ética e Filosofia moral.
Jaqueline Salomé
Immanuel
Kant
Filho de uma família
chefiada por um artesão descendente de escoceses, Kant nasceu na cidade de
Königsberg, na Prússia Oriental,
em 22 de abril de 1724. Sua família tradicional protestante marcou a sua
vida e relação com a religião. O grande pensador da Modernidade não se
dizia ateu, mas sempre manteve
uma relação polêmica com a religião por defender, em seu criticismo
que somente podemos conhecer aquilo que podemos intuir, ou seja, aquilo
que podemos ver, ouvir, de fato experimentar.
Aos 16 anos de idade,
Immanuel Kant entrou para o curso de Teologia da Universidade de
Königsberg, onde começou a aprofundar os seus estudos em Filosofia, principalmente em Leibniz. Também se interessou por Física e Matemática, inclusive
escrevendo sobre Ciências Naturais.
Em 1746, o falecimento de
seu pai fez com que o filósofo fosse obrigado a trabalhar como preceptor,
ensinando os filhos de famílias ricas de Königsberg. Para sua sorte, o pensador
conquistou certo prestígio e conseguiu adentrar no meio intelectual da cidade,
devido à influência adquirida como preceptor e à sua inteligência incomum.
Em 1754, o filósofo retornou
para a universidade, onde se doutorou em Filosofia e passou a
lecionar como livre docente. Em 1770, o filósofo e professor de Königsberg
passou a ocupar a cátedra de Lógica e Metafísica da Universidade de Königsberg,
cargo que ocupou até a sua morte.
A entrada como professor
catedrático também impulsionou os trabalhos filosóficos de Kant, que se ocupou
de suas principais obras, as quais promoveriam o que ele chamou de “revolução
copernicana da Filosofia”, devido à sua inclinação para o criticismo, que
resolveria os impasses de filósofos e correntes filosóficas anteriores.
Kant foi proibido de
escrever sobre religião pelo Rei Frederico Guilherme II, da Prússia,
devido às suas teses polêmicas, que levariam a uma espécie de agnosticismo
intelectual. Kant publicou textos sobre religião somente
em 1797, após a morte do rei.
Alguns dos principais livros
de Kant são: Crítica da razão pura, Crítica da razão
prática, Crítica da faculdade de julgar e Fundamentação da
Metafísica dos costumes. Extremamente rigoroso e metódico, o
filósofo nunca se casou e não teve filhos, dedicando-se, quase integralmente, à
pesquisa e à docência em Filosofia. Curiosamente, o pensador prussiano nunca
saiu de sua cidade natal, e sua extrema erudição e seu conhecimento geral eram
obtidos por meio de leituras e contato com pessoas de fora.
Kant comparou a si mesmo com Copérnico,
que reverteu a forma como vemos o sistema
solar, na medida em que seu trabalho promoveu uma
revolução similar na filosofia. Isto ocorreu quando Kant demonstrou como os
problemas metafísicos tradicionais poderiam ser superados pela suposição de que
a concordância entre os conceitos que usamos para conceber a realidade e a
própria realidade surge da conformação desta realidade a mente humana, de modo
ativo e de forma que todos os humanos possam experimenta-la, e não porque
nossos conceitos mentais passivamente reflitam a realidade, sem nada adicionar.
Destarte, para Kant, a experiência era de extrema importância, mas a mente
humana era a condição de possibilidade para qualquer experiência. A mente
humana é o que nos permite transcender a mera atitude passiva em relação a
realidade e termos experiências genuínas.
Em sua Crítica da Razão Pura, de 1781,
Kant leva este trabalho a cabo e busca afastar o ceticismo de filósofos
como David Hume, promovendo a dissolução do impasse entre racionalistas e
empiristas. Sua posição não implica em relativismo da realidade, de fato Kant
defende uma realidade objetiva, para a qual cunhou o termo "coisa em si",
porém, se não pelas configurações específicas da mente humana a experiência da
coisa em si é impossível, de modo que só temos acesso ao resultado de nossos conceitos
aplicados sobre a realidade, para o que utilizou o termo "fenômeno".
Desta forma, não temos acesso a coisa é si, mas a mente humana não altera a
realidade, enquanto coisa em si, ela altera a nossa experiência da realidade, o
fenômeno, em última instância, a mente humana torna possível a experiência.
Devido a estas mesmas configurações, conceitos como
espaço e tempo são compartilhados por todas as mentes, de modo a tornar
possível a comunicação, o conhecimento e a moral.
Em ética, seu principal legado é o conceito
de imperativo
categórico, que utilizou para afastar a visão utilitarista.
Em termos de filosofia política,
Kant foi uma expoente da ideia de que a Paz Perpétua seria o
resultado da história universal, sendo atingida, em algum momento, e garantida sem
um planejamento racional, mas pela cooperação internacional. O autor defendeu
um estado baseado na lei, ou uma reunião de indivíduos sob a lei, com um
governo republicano. Kant recusou a democracia direta,
pois esta oferece risco a liberdade individual, comparando a democracia com
o despotismo,
uma vez que esta estabelece um poder
executivo que pode governar contra a liberdade dos
indivíduos que discordam da maioria. Criticou ainda que a democracia é
normalmente identificada com a ideia de que todos governam, mas de fato o
"todo" não é a totalidade. O autor propunha um governo misto,
composto de elementos da democracia, aristocracia e monarquia,
o que deveria servir para evitar as suas formas degeneradas, respectivamente
anarquia, oligarquia e tirania.
As posições e teorias de Kant
continuam a ser estudadas ativamente, em campos clássicos como a política e a
metafísica, assim como em campos contemporâneos como a ciência cognitiva e
filosofia da psicologia. Entre seus maiores críticos encontramos os
filósofos Arthur
Schopenhauer e Johann Georg Hamann.
Fonte: https://www.infoescola.com/biografias/immanuel-kant/