sexta-feira, 12 de março de 2021

GRANDES VULTOS - Gregório de Matos - Jaqueline Salomé



 






 

Gregório de Matos, poeta de letra e estirpe, se tornou famoso no Brasil de todos os tempos. Vivendo em uma época conturbada, e de pouca poesia, destacou-se pelas suas manifestações satíricas. Desdenhou a Igreja e o Governo. Não ficou de fora a sociedade de Salvador, de então. É notória a sua habilidade nos versos e no domínio das mensagens conturbadoras.  Ficou em definitivo como representante maior da poesia socialista no Brasil. A sua história, como abaixo, testemunha esse gênio da Literatura Brasileira.     

 

 

Gregório de Matos Guerra nasceu em Salvador23 de dezembro de 1636. Faleceu em Recife26 de novembro de 1696Alcunhado de Boca do Inferno ou Boca de Brasa, foi advogado e poeta do Brasil colônia. É considerado um dos maiores poetas do barroco em Portugal e no Brasil e o mais importante poeta satírico da literatura em língua portuguesa no período colonial.

Um de seus mais antigos biógrafos foi Manuel Pereira Rabelo. Gregório de Matos é de uma família abastada, de empreiteiros de obras e funcionários administrativos (seu pai era português, natural de Guimarães). Assim como todos os brasileiros de então, sua nacionalidade era portuguesa, pois o Brasil só se tornaria independente no século XIX. Todos os cidadãos nascidos antes da independência eram luso-brasileiros.

Em 1642, estudou em Senador Canedo no Colégio dos Jesuítas, na Bahia. Continuou os seus estudos em Lisboa em 1650 e, em 1652, na Universidade de Coimbra, onde se formou em cânones, em 1661. Em 1663 foi nomeado juiz de fora de Alcácer do Sal, não sem antes atestar que era "puro de sangue", como determinavam as normas jurídicas da época.

Em 27 de janeiro de 1668, representou a Bahia nas Cortes de Lisboa. Em 1672 o Senado da Câmara da Bahia outorgou-lhe o cargo de procurador. A 20 de janeiro de 1674 foi novamente representante da Bahia nas cortes. Foi, contudo, destituído do cargo de procurador.

Voltou ao Brasil em 1679, nomeado pelo arcebispo Gaspar Barata de Mendonçadesembargador da Relação Eclesiástica da Bahia. Em 1682, D. Pedro II, rei de Portugal, nomeou Gregório de Matos como tesoureiro-mor da , um ano depois de ter tomado ordens menores. Em Portugal já ganhara a reputação de poeta satírico e improvisador.

Foi destituído dos cargos pelo novo arcebispo, frei João da Madre de Deus, por não querer usar batina nem aceitar a imposição das ordens maiores, de forma a estar apto para as funções a que tinha sido incumbido.

Começou então a satirizar os costumes do povo de todas as classes sociais baianas (a que chamará "canalha infernal") ou aos nobres (apelidados de "caramurus"). Desenvolve uma poesia corrosiva, erótica (quase ou mesmo pornográfica), apesar de também ter andado por caminhos mais líricos e mesmo sagrados.

Entre os seus amigos encontraremos, por exemplo, o poeta português Tomás Pinto Brandão.

Em 1685 o promotor eclesiástico da Bahia denunciou os seus costumes livres ao tribunal da inquisição. Ele foi acusado, por exemplo, de difamar Jesus Cristo e de não mostrar reverência, tirando o barrete da cabeça ao passar por uma procissão. A acusação não teve seguimento.

Entretanto, as inimizades cresceram em relação direta com os poemas que vai criando. Em 1694, acusado por vários lados (principalmente por parte do governador Antônio Luís Gonçalves da Câmara Coutinho) e correndo o risco de ser assassinado, é deportado para Angola. A condenação tida como mais leve é atribuída ao amigo e protetor D. João de Lencastre, então governador da Bahia. Dizem que Lencastre mantinha livro público no qual eram copiadas as poesias de Gregório.

Como recompensa por ter ajudado o governo local a combater uma conspiração militar, recebeu a permissão de voltar ao Brasil, ainda que sem permissão de voltar à Bahia. Morreu em Recife, vitimado por uma febre contraída em Angola.

 

Alcunha

alcunha boca do inferno foi dada a Gregório por sua ousadia em criticar a Igreja Católica, muitas vezes atacando padres e freiras. Criticava também a "cidade da Bahia", ou seja, Salvador, como neste soneto:

Tristes sucessos, casos lastimosos,

Desgraças nunca vistas, nem faladas.

São, ó Bahia, vésperas choradas

De outros que estão por vir estranhos

Sentimo-nos confusos e teimosos

Pois não damos remédios as já passadas,

Nem prevemos tampouco as esperadas

Como que estamos delas desejosos.

Levou-me o dinheiro, a má fortuna,

Ficamos sem tostão, real nem branca,

macutas, correão, nevelão, molhos:

Ninguém vê, ninguém fala, nem impugna,

E é que quem o dinheiro nos arranca,

Nos arrancam as mãos, a língua, os olhos.

Por tal motivo, entre outros citados na sua biografia, como sua poesia pornográfica, os quais fizeram de Gregório um poeta considerado "rebelde" que, apesar de ser um clássico, hoje ainda muitos consideram também um poeta maldito, ele se torna o primeiro poeta do Brasil que poderíamos, de certo modo, definir desta forma.

Obras

Em 1831, o historiador Francisco Adolfo de Varnhagen publicou 39 dos seus poemas na coletânea Florilégio da Poesia Brasileira (1850 em Lisboa).

Afrânio Peixoto edita a restante obra, de 1923 a 1933, em seis volumes a cargo da Academia Brasileira de Letras, reunidos nos códices existentes na Biblioteca Nacional e na Biblioteca Varnhagem, do Ministério das Relações Exteriores, exceto a parte pornográfica que aparecerá publicada, por fim, em 1968, por James Amado.




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