Não gosto de barulho. Sou contemplativo, preferindo olhar as pessoas e os acontecimentos. Sempre me sentei na última fila nos bancos escolares, e até hoje faço isso em qualquer platéia. De lá, observo o que se passa, e o que mais me fascina é a complexa natureza humana.
Seguindo essa inclinação, sou avesso
à velocidade e à pressa, procurando chegar aos compromissos antes do horário marcado,
para não me estressar. Também tenho um ritmo próprio ao andar. Fazendo O Caminho
de Santiago, notava que os peregrinos normalmente passavam por mim, e que o
contrário era bem mais difícil de acontecer.
Quando rapazola me colocava no lugar
dos protagonistas dos livros que
lia.
Até hoje tenho tendência a isso e, sem querer, caminho pelo outro lado da
memória. Diz
a Bíblia que Jesus nasceu dum médium
silentium. Pensando sobre isso, constatei que tudo que é bom acontece na
calmaria. Calados, descobrimos que estamos amando, e quando choramos, o pranto
é mais sincero na quietude.
Enquanto escrevo essas linhas, um
garoto choraminga no quarto que foi de sua mãe. Mesmo desafinado, cantei Boi da Cara Preta para meu neto, o
acalanto eterno que fez dormir todos nós.
Este
simples ato me reconfortou, e me fez ver que nem tudo está perdido. É inverno,
mas a primavera está vindo.
Da SOBRAMES-PE (Sociedade Brasileira de Médicos Escritores)
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