sexta-feira, 12 de março de 2021

O SILÊNCIO - Paulo Paiva

                 Não gosto de barulho. Sou contemplativo, preferindo olhar as pessoas e os acontecimentos. Sempre me sentei na última fila nos bancos escolares, e até hoje faço isso em qualquer platéia. De lá, observo o que se passa, e o que mais me fascina é a complexa natureza humana.

            Seguindo essa inclinação, sou avesso à velocidade e à pressa, procurando chegar aos compromissos antes do horário marcado, para não me estressar. Também tenho um ritmo próprio ao andar. Fazendo O Caminho de Santiago, notava que os peregrinos normalmente passavam por mim, e que o contrário era bem mais difícil de acontecer.

            Quando rapazola me colocava no lugar dos protagonistas dos livros que

lia. Até hoje tenho tendência a isso e, sem querer, caminho pelo outro lado da memória. Diz a Bíblia que Jesus nasceu dum médium silentium. Pensando sobre isso, constatei que tudo que é bom acontece na calmaria. Calados, descobrimos que estamos amando, e quando choramos, o pranto é mais sincero na quietude.

            Enquanto escrevo essas linhas, um garoto choraminga no quarto que foi de sua mãe. Mesmo desafinado, cantei Boi da Cara Preta para meu neto, o acalanto eterno que fez dormir todos nós.

Este simples ato me reconfortou, e me fez ver que nem tudo está perdido. É inverno, mas a primavera está vindo.

 

 Da SOBRAMES-PE (Sociedade Brasileira de Médicos Escritores)

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