Um
viajante solitário perdeu-se numa noite, enquanto cruzava parte do deserto
americano. Pra piorar, caiu de sua montaria, que assustara-se com um outro
animal. Ele ficou ali desacordado. Ao voltar a si, não sentiu frio. Estava numa
cabana. Passou a mão na testa e sentiu um unguento perfumado sobre a ferida
recente. Sentou-se devagar. Viu, junto ao fogo, um velho pele-vermelha, cujos
olhos e semblante eram amistosos. Ele contou calmamente como encontrara o
viajante, oferecendo uma bebida quente e forte. Depois sentaram à porta e o
viajante viu as cicatrizes do velho índio. Não resistiu e perguntou: “como,
vivendo tão isolado, sobreviveu a tantos ferimentos”? Ele sorriu timidamente.
Fitou o céu estrelado e falou: “meu novo amigo, eu vivo só! Sou um dos últimos
do meu povo. Nasci livre e morrerei livre. O instinto me faz sobreviver. Eu
mesmo suturo minhas feridas e estanco meus sangramentos. No dia que um deles
for incurável, eu morrerei livre. Meu espírito irá iluminar a noite, será mais
uma das tantas estrelas”.
Despediram-se
pela manhã e o viajante nunca mais viu o pele-vermelha.
Vieram
outras luas e anos. O homem tornou-se um grande médico e lia no seu escritório.
A porta abriu-se e entrou seu filho de cinco anos, de face rosada e olhos
claros. Olhou o quadro atrás da mesa do seu pai. Nele, com detalhes de uma
fotografia, a tela reproduzia um velho índio iluminado pela lua. Era majestosa
a cena, a dignidade e a sabedoria que emanavam do quadro. Papai, disse o
garoto, “o senhor conta a história dele”? O homem disse que sim. Nunca
esquecera. O filho acompanhou com o dedo a cicatriz na sua testa.
Assim,
esta história chegou aqui.
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