Como jornalista e professor universitário, não tenho dúvida em
recomendar a leitura do livro História
do BRASIL (para ocupados), editora Leya Brasil-SP, edição 2020. Organizado
pelo escritor e editor Luciano Figueiredo, a obra compõe-se de 70 ensaios assinados
por historiadores e pesquisadores de reconhecida capacidade, versando sobre os
vários aspectos que permeiam a nossa História, nas suas dimensões territoriais,
antropológicas, econômicas, sociopolíticas e culturais. O Brasil Colônia,
Império e República, portanto 500 anos de embates e caminhadas.
Diferente da maioria das publicações,
concebidas de forma quase sempre monocrática, História do BRASIL (para ocupados) compõe-se de seis capítulos na
seguinte ordem: 1 – Pátria descoberta; 2 – Fé e a ordem cristã; 3 – Poder; 4 –
Povo; 5 – Guerra; 6 – Construtores.
A leitura dessa obra corrige falhas,
omissões e lacunas da História oficial, ministrada nas escolas, de canto a
canto do país, por professores (as), quase sempre leigos, que se limitam a
transmitir as lições dos livros didáticos concebidos sob a ótica dos
“vencedores”, conforme assinala o jurisconsulto Raimundo Faoro, no seu clássico
Os Donos do Poder.
A
obra desdobra-se na seguinte ordem, com os títulos e respectivos autores:
DESCOBERTAS: Quem descobriu o Brasil – Joaquim Romero
de Magalhães; O nome Brasil – Laura de Mello e Souza (pgs. 16 a 21).
ENTRE
BÁRBAROS: Canibais e
corsários: canibalismo para alemão ver – Rinald Raminelli; Bandeiras indígenas
– John Monteiro; Invasão francesa – Maria Fernanda Bicalho (pgs. 29 a 41).
O
TRÁFEGO NEGREIRO: Sem
Angola não há Brasil – Luiz Felipe de Alencastro; Traficante chachá – Alberto
da Costa e Silva (pgs. 46 a 50).
ÁFRICA
NO BRASIL: Os mistérios da rosa
– Luiz Mott; Candoblé para todos – João José Reis; Capoeira mata um – Carlos
Eugênio Líbano (pgs. 56 a 73).
AMAZÔNIA
E FANTASIA: Nasce a Amazônia –
Rafael Chambouleyron; Louco, aventureiro e místico – Chris Burden (pgs. 81 a
86).
FÉ –
A ORDEM CRISTÃ:
Exércitos de Cristo – Ronaldo Vainfas; Compromisso entre irmãos – Caio Boshi
(pgs. 98 a 103).
SANTOS
E SANTAS: Santo Guerreiro –
Georgina Silva dos Santos; Santa e Padroeira – Juliana Beatriz Almeida de Sara;
Salve Anastácia - Mônica Dias de Souza (pgs. 109 a 119).
DEMÔNIOS
E TUMBAS: Vade retro – Marcia
Moisés Ribeiro; Feitiços e feiticeiros – Daniella Bruno Calainho (pgs. 133 a
137).
MISTÉRIOS
E CONCILIAÇÃO:
Maçonaria na luta – Marco Morel; Kardec entre nós – Emerson Giumbelli (pgs. 133
a 128).
PODER
– INVESTIMENTOS E CAPITAIS: Civilização de açúcar – Ana Maria da Silva
Moura; Ouro de tolo – Ângelo Carrara; Ciclo do café – Sheila de Castro Faria
(pgs.146 a 157).
NOVA
ORDEM, VELHOS PACTOS: Além do
café com leite – Claudia M. R. Viscardi; O que querem os tenentes? – Marieta de
Moraes Ferreira; Mudança de comando – Marly de Almeida Gomes Viana (pgs. 165 a
177).
FASCISMO
VERDE-AMARELO:
Segurança nacional – Maria Luiza Tucci Carneiro; Nazismo tropical – René E.
Gestz (pgs. 181 a 187).
GOLPE
MILITAR, VIOLÊNCIA E EXCLUSÃO: Nos porões do Estado Novo –
José Murilo de Carvalho; 1964: golpe militar ou civil? – Daniel Aarão Reis;
1968: um ano chave – Lucilia de Almeida Neves Delgado (pgs. 192 a 202).
POVO:
D. JOÃO DE PASSAGEM: Todos a
bordo! – Lília Moritz Schwarez; Qie rei sou eu? – Lúcia Maria Bastos P. Neves e
Guilherme Pereira das Neves; Sempre Carlota – Francisca Nogueira de Azevedo
(pgs. 210 a 225).
D.
PEDRO-I, ARDENTE e CORTESÃO: O
indiscreto “demonão” – Mary Del Priore; Leopoldina, a austríaca que amava o
Brasil – Clóvis Bulcão (pgs. 231 a 235).
D.
PEDRO-II e a ULTIMA CORTE: A
República de Dom Pedro-II – José Murilo de Carvalho; O reinado de Isabel –
Robert Daibert Júnior (pgs. 244 a 247).
O MAU
LADRÃO: Ficha suja – Eduardo
Bueno; A arte da subtração – Ronaldo Vainfas; Basta de corrupção – José Murilo
de Carvalho (pgs. 253 a 263).
SEXUALIDADES
MESTIÇAS: “Não existe pecado
do lado de baixo do Equador” – Ronaldo Vainfas; Santo ofício da homofobia –
Luiz Mott; Um caldeirão de amores – Mary Del Priore (pgs. 269 a 284).
HUMORES
E SABORES: Pinga da boa –
Luciano Figueiredo; Sabores da colônia – Paula Pinto e Silva (pgs.288 a 294).
GUERRA:
OPRESSÃO COLONIAL: Índios,
hereges e rebeldes – Ronaldo Vainfas; Fim de jogo em Guararapes – Rômulo Luiz
Xavier do Nascimento; Pobres, rudes e ameaçadores – Laura de Mello e Souza;
Quilombo de um novo tipo – João José Resi (pgs. 302 a 318).
SANGUE
NAS PROVÍNCIAS: A Bahia
pela liberdade – Hendrik Kraay; Farrapos com a faca na bota – Sandra Jatahi
Pesavento; Insurreição praeira – Marcos de Carvalho; A Guerra de Canudos à
sombra da República – Jacqueline Hermann (pgs. 325 a 340).
ABOLIÇÃO
E A REPÚBLICA DESIGUAL:
Flores da liberdade – Eduardo Silva; O povo contra a vacina – José Murilo de
Carvalho; Abaixo a chibata – Marco Morel (pgs. 347 a 359).
GUERRA
NA AMÉRICA E NA EUROPA: Paraguai:
guerra maldita – Francisco Doratioto Nas trincheiras contra Hítler – Luis
Felipe da Silva Neves (pgs. 363 a 369).
CONSTRUTORES ENTRE DOIS MUNDOS: Maurício do
Brasil – Evaldo Cabral de Mello; Chica da silva além do mito – Júnia Ferreira
Furtado; José Bonifácio inconformado – Ana Cristina Araújo (pgs. 376 a 388).
GUARDIÕES: Maria Quitéria vai à guerra – Patrícina
Valim; Osório em toda a parte – Francisco Doratioto; Quem desenhou o Brasil –
Rubens Recúpero; Fé na taba – LorelaiKury (pgs. 393 a 408).
A
PALAVRA E O GESTO: Muitos Gregórios
– João Adolfo Hansen; Machado entre letras e números – Gustavo Franco; Coma
palavra, Lima Barreto – Beatriz Resende (pgs. 414 a 426).
INVENTORES: Oswald à vista – Renato Cordeiro Gomes; A
invenção da MPB – João Máximo; “O meu pai era paulista”... – Francisco Alambert
(pgs. 431 a 447).
LIDERANÇAS: Vargas exemplar – Ângela de
Castro; Um presidente bossa nova – Marly Motta (pgs. 454 a 460).
SONHADORES: Palavra de Tiradentes – Tarcísio de Souza
Gaspar; O marinheiro e seus bordados – José Murilo de Carvalho; O herói da
floresta – Kenneth Maxwell (pgs. 466 a 476).
Faço minhas as palavras do organizador e
editor dessa obra, Luciano Figueiredo, em um dos tópicos da sua Apresentação,
por sintetizar a sua abrangência e conteúdo:
“A forma inovadora de abordar o passado
neste livro combina com essa vivência contemporânea ao oferecer uma visão à
História do Brasil arranjada como um caleidoscópio. Cerca de setenta brilhantes
historiadores contam passagens singulares da formação do país, resgatando os
grandes acontecimentos e passagens, trazendo à tona dramas coletivos e individuais
com enorme conhecimento de causa e muita sensibilidade. Tudo isso em uma
leitura prazerosa, com que se esmiuçam detalhes pitorescos e fatos curiosos.
Nada daquela impostação professoral, nada de jargões ou trechos indecifráveis”.
Para entendermos melhor o Brasil de hoje,
urge uma volta às últimas décadas do século XIX (fim da escravidão e do Império)
e à primeira do século XX, já na República, com a leitura de História do BRASIL (para ocupados),
precisamente o ensaio “O povo contra a vacina”, do escritor José Murilo de
Carvalho, às pgs. 352 a 358.
Rio de Janeiro, então com seus 800 mil
habitantes, era tomada pelos vírus da febre amarela, peste bubônica,
tuberculose, malária, tifo e outras enfermidades, a fazerem milhares de
vítimas. O então presidente da República, Rodrigues Alves, convoca o
sanitarista Oswaldo Cruz, a quem incumbe criar as condições para livrar a
população dessas moléstias. Surge daí a vacina contra a febre amarela e o
Governo decreta a obrigatoriedade da vacinação para todos. Surge incontinenti
fortes reações contrárias, com passeatas e toda sorte de reações contrárias,
mexendo inclusive com as Forças Armadas. A intensidade das reações contrárias à
vacinação levou o presidente Rodrigues Alves a decretar “Estado de Sítio”.
Leitura que recomendo, repito, aos três
níveis de ensino e a quantos precisam e gostariam de saber mais e melhor sobre
a História desse gigante chamado Brasil.
(Manoel Neto Teixeira, jornalista e
escritor, é membro, dentre outras, da Academia Pernambucana de Letras Jurídicas
– cadeira 44). E-mail: polysneto@yahoo.com.br
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