O
principal cemitério de Garanhuns, o São Miguel, onde estão sepultadas
celebridades da política, das artes, da cultura, do jornalismo e do
empresariado da cidade, passa atualmente por grave crise quanto à limpeza e
segurança: o mato e o lixo espalhados de canto e canto, túmulos e mausoléus invadidos
e suas peças de bronze, alumínio, ferro, em forma de jarros, quadros e placas
levados pelos ladrões, na ausência completa de vigilância noturna. Até os
telhados de brasilite são extraídos e levados, reiteradamente, sem qualquer
ação por parte da edilidade, a quem o “campo santo” está atrelado. Vamos ter,
agora, um dos mais tristes Dia de Finados, quando os familiares costumam
visitar os túmulos dos entes queridos.
Passei
boa parte do tempo desses dias que antecedem ao Dia de Finados, lá no São
Miguel, repondo o telhado extraído pela segunda vez, reinstalando peças e
reforçando a segurança no que é possível do mausoléu onde repousam meus entes
queridos, da primeira à quarta gerações. Suficiente para observar e documentar
esse abandono em que se encontra o maior cemitério de Garanhuns. Entre os
inúmeros túmulos violentados está o de Dominguinhos, celebridade da sanfona e
da composição que brilhou nacionalmente. Repus pela segunda vez o telhado e
outros danos causados ao túmulo da minha família.
Tempo
suficiente para circular por entre túmulos e mausoléus de celebridades de
Garanhuns, fazendo algumas anotações, face à importância dos que lá repousam,
para a política, a cultura e a história da terra. Foram momentos de emoção e
reflexão ao parar, por exemplo, frente ao túmulo da família Moraes, com os
quais tive o privilégio de conviver e colher lições inapagáveis, antes de
partir para o Recife: Raimundo Atanásio de Moraes e sua consorte Obdúlia
Atanásio de Moraes, ele, odontólogo, vereador por vários mandatos, presidiu a
Câmara Municipal, que leva hoje o seu nome, e os filhos Claudio Alves de Moraes
(jornalista), Humberto Alves de Moraes (jornalista, político e cronista,
vereador e vice-prefeito ao lado do prefeito Souto Dourado), e Maria de Lourdes
de Moraes, minha professora no curso primário no Colégio Diocesano, anos
50.”Descansem em Deus e que a luz Divina os ilumine”.
Passo
adiante e eis-me frente aos mausoléus da família Valença. No primeiro, e de
maior extensão, repousam o casal Abílio
Camilo Velença e sua consorte Emília
da Mota Valença, e os filhos Abgar
(padre), Almira, Arlinda, Alódia e
Alcinda, de relevantes serviços prestados a Garanhuns e toda região
agreste, no campo da educação e da cultura, conforme está registrado no livro
de nossa autoria Garanhuns – Álbum do
Novo Milênio (1811-2016): “Não se pode escrever a história do
desenvolvimento educacional desta cidade, ao longo do século XX, sem o concurso
dessas mestras que tanto contribuíram para a instrução de várias gerações, ao
lado do seu irmão o carismático padre-monsenhor Adelmar da Mota Valença, cujo
corpo repousa na Catedral de Garanhuns, ao lado dos bispos que também já estão
noutra dimensão. Frente a esse extenso mausoléu está o do ex-prefeito (por dois
mandatos) Amílcar da Mota Valença,
dos mais aplaudidos e respeitados como homem público de toda região agreste.
“Suas boas ações o conduziram ao Céu”.
No
túmulo do meu tio, industrial do famoso vinho Galvão, Júlio Jacinto, está escrito: “Saudade do seu exemplo e amor”. No
do meu querido pai, Henrique Jacinto da
Silva, também conhecido pelo nome de “Zé Jacinto”, está escrito:
“O
homem passa, mas permanece sua obra, seu exemplo de amor ao trabalho, à família
e aos amigos, principalmente quando calcado na ética e na dignidade. Henrique
Jacinto da Silva foi sempre assim, um facho a iluminar caminhos, estradas e
veredas, Brasil afora.
Familiares
e amigos – estes, são incontáveis, pelo Brasil que ele tão bem conheceu como
peregrino da paz, do trabalho, do amor e da alegria, todos, uníssonos, nesta
hora de dor e saudade eterna, elevamos nossas preces pelo pai, irmão e amigo
desencarnado.
Caríssimo
pai, esposo, avô, irmão, amigo Zé Jacinto: todos nós estamos sempre ao seu
lado, pois a matéria passa, mas a união espiritual transcende os limites do
nosso dia a dia e se projeta qual luz inapagável”. Repouse em paz”.
Cemitério,
recanto de lágrimas, saudades e preces. Mesmo sujo e aspecto de abandono, o
nosso São Miguel será palco dessas manifestações, nesse Dois de Novembro.
Concluo com um poema da nossa série Multivisão,
volume IV:
SAUDADE
Saudade
é bálsamo
Para
homem e mulher
Embala
silêncio, solidão
Mas
querença requer.
Ela
chega de repente
De
forma inesperada
Alegra
quem a sente
Dia,
noite, madrugada.
Reduz
as distâncias
Ataca
em qualquer lugar
Sacia
a dor da ausência
Para
quem sabe amar.
(Manoel Neto Teixeira, jornalista e historiador, autor, dentre outras, da obra Pinto Ferreira, Vida e Obra, prêmio da Academia Pernambucana de Letras, categoria Ensaio, edição 2010, é membro da Academia Pernambucana de Letras Jurídicas, Cadeira 44). E-mail: polysneto@yahoo.com.br