quarta-feira, 6 de outubro de 2021

SEM DÚVIDA, EMOÇÕES! - Luiz Gonzaga de Mattos

 








Em 1959, há 62 anos, o meu final de tarde era o momento de curtir a Rádio Mayrink Veiga, com Jair de Taumaturgo comandando o programa Hoje é Dia de Rock. Na abertura, a saudação aos serviços de alto-falante de Nova Iguaçu, Meyer, Parada de Lucas e de algumas praças da Zona Sul do Rio de Janeiro. Na seleção musical, o destaque para o Rei e Rainha do Rock, Sérgio Murilo e Cely Campello, com seus sucessos Marcianita e Estúpido Cupido. Desfilavam também Tony Campello, George Freedman, Demetrius, dentre outros. No quem é quem da música internacional, a briga entre Elvis Presley e Chubbi Checker, que agitava as paradas com o seu The Twist.
Dentre os novos surgia um garotão que embarcara na Bossa Nova com as músicas João e Maria e Fora de Tom nos vinil simples, 78 rpm, gravado na Polydor. Esse disco marcou o início da carreira de Roberto Carlos. Uma jornada de 62 anos com lugar de destaque no cenário musical brasileiro. No ano seguinte, novo 78 rotações. Nesses discos e no primeiro LP, músicas de Carlos Imperial que apostava no rapaz de Cachoeiro de Itapemirim. Em 1963 foi formada a parceria com Erasmo Carlos com o lançamento do LP Splish Splash.
Aí Roberto Carlos entrou na minha vida. Em 1964 saiu o Hoje é Dia de Rock e começou a Jovem Guarda dominando a atenção de adolescentes e jovens dispostos a lascar por aí beijos de sair faísca e com fogo que nem bombeiro poderia apagar.
Nesses anos todos nem sei se eu acompanhei RC ou ele que soube me acompanhar. A mim e a todos os admiradores de sua música. Uma caminhada que teve início com a doce Rosinha (Oh, Rosa, Rosinha/ Que bom seria se tu fosses minha/ Oh! Rosa, que coisa louca/ Seria dar um beijo em sua boca). Conheci a Rose numa viagem a Matinhos, com o ônibus descendo a Graciosa. O compacto simples rodava várias vezes ao dia na minha vitrola portátil, comprada n’A Musical, na XV com a Muricy. Mas o que vingou mesmo foi a sabedoria popular: amor de praia não sobe a serra. Esqueci a garota mas me lembro até hoje a letra da música.
Na vida de estudante, morando em república, o sábado era dia de festinha americana. Numa viagem ao Rio de Janeiro, em 1965, fiz uma peregrinação pelo comércio para comprar uma calça Lee. Se a Sears era americana e a calça, coqueluche da época, também era dos “Esteites” fui até lá. Dei com o nariz na porta. - Acho que você só vai comprar no Mercadinho Azul, em Copacabana. Na mosca! Uma galeria repleta de lojinhas com perfumes importados, brinquedos eletrônicos e lá no fundo do corredor, a minha sonhada calça Lee. Num dia desses mexendo no Google encontrei o Mercadinho Azul. Lá estava o depoimento de Carlinhos Lyra falando sobre a, compra da sua primeira Lee.
E o esforço valeu a pena. Nas festinhas lá estava eu, de Lee, desfilando num trânsito cheio de calças Far West, feitas com Brim Coringa pela Alpargatas. Botinha, cinturão com fivela em alto estilo e aquele jeans faziam o tipo “cheguei”. Falem o que quiserem, mas o sucesso era garantido. Entrei de sola no mundo do papo legal, pra frente, é uma brasa, mora?... Até me chamavam de pão.
Não tinha, naturalmente, o cavalinho rampante da Ferrari... mas cavalguei por muitas estradas coloridas.
Se ainda não existia o ficar tínhamos a paquera. E entre uma cuba libre ou Hifi, a busca pelo flerte passava pela lista das dez mais da Jovem Guarda. Lembro-me de uma delas que era infalível para os momentos finais da festa: A Garota do Baile. Preparava aquele olhar 43 e colocava foco no broto, passando a mensagem que era dada pelo RC: O baile vai terminar/E a última dança/ A última dança/ Já vai começar. E funcionava! - Ela entende o meu olhar/ Dispensou a multidão/ E eu pude então/ Com ela dançar.
Nesses anos tive casos em que me esqueci de tentar esquecer e resolvi querer por querer. Alguns foram detalhes tão pequenos, mas que representavam coisas muito grandes pra esquecer. Vejo agora que ainda estão presentes.
Como o detalhe que me tocava quando ouvia o refrão Eu voltei. Acho que só eu mesmo mudei. E pensei: Mas eu sempre fui assim/ Um boêmio, um sonhador/ Pela vida apaixonado.
Assim, se chorei ou se sorri o importante é que emoções eu vivi.

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