quarta-feira, 4 de agosto de 2021

OS ELEMENTOS DO FALAR E ESCREVER - Manoel Neto Teixeira


 







A nossa língua portuguesa, das mais belas e complexas, principal orgulho nacional, é utilizada e exercitada por todas as classes sociais, do campo às grandes e pequenas cidades espalhadas pelos mais de cinco mil municípios em que está dividido/unido esse continente chamado Brasil.

            É imensurável a contribuição que os estudiosos de nossa língua, chamados de filólogos, têm dado ao país e a cada brasileiro, sobre como falar e escrever seguindo os fundamentos da nossa língua: sintaxe, etimologia, prosódia e ortografia.

            Esses quatro pilares se desdobram em orações formadas com artigo, nome, pronome, particípio, interjeição, verbo, advérbio, preposição e conjunção. A reunião desses elementos forma as orações, proclamadas oralmente ou por escrito (texto).

            Entre os poucos filólogos que se dedicaram ao estudo e sistematização da nossa língua, destaca-se o professor Levino Epaminondas de França, de saudosa memória, autor da obra PORTUGUÊS EM PINGOS DE ANÁLISE SINTÁTICA, edição de 1971 do Colégio Diocesano de Garanhuns, onde o autor ensinava Latim e Português. O prefácio dessa obra é do então diretor do Colégio, Mons. Adelmar da Mota Valença.

            Essa obra tem alcance didático e está a reclamar uma nova edição, procedendo-se à atualização conforme as últimas reformas de nossa língua. O autor inicia seu trabalho (193 páginas) discorrendo sobre a oração, que se compõe de termos essenciais, integrantes e termos acessórios. No primeiro encontram-se o sujeito e o predicado; sujeito simples, composto e indeterminado. Porém, existe a oração sem sujeito.

            Predicado: nominal, verbal e verbo-nominal;

            Predicativo: do sujeito e do objeto.

            Os termos integrantes da oração são: complemento nominal, complemento verbal e agente da passiva. O objeto pode ser direto e indireto.

            Os termos acessórios da oração são: adjunto adnominal, adjunto adverbial e aposto.

            Na primeira parte de sua obra o prof. Epaminondas diz que o pensamento é uma fonte poderosa de poder. O homem pensa, transforma o pensamento em palavras e as palavras em ação ou trabalho.

            E acrescenta: transmitimos a nossos semelhantes os pensamentos, por meio da palavra – falada e escrita.

            A ideia é expressa por um pensamento, ou um grupo de pensamentos. Ex.: “O homem educado tem mais valor”. A ideia do valor de um homem educado foi expressa e compreendida por um só pensamento.

            Às vezes, porém, é preciso mais de um pensamento para maior clareza da ideia. Ex.: “Eles foram verdadeiros heróis, porque vieram para a cidade, a fim de educar os filhos”.

            Para que a ideia desse heroísmo tenha o seu verdadeiro valor, são necessários três pensamentos: 1- eles foram verdadeiros heróis; 2 - porque vieram para a cidade; 3 - a fim de educar os filhos.

            O verbo é como que a alma do pensamento. Se cada pensamento forma uma oração, cada oração possui um verbo; sem verbo não haverá pensamento, não haverá oração.

            Oração é a expressão do pensamento, por meio da palavra – falada ou escrita.

            Vários são os movimentos do espírito.

            Tudo quanto dizemos (falando ou escrevendo) é sempre o resultado de uma ideia que tivemos, ou de alguma observação que fizemos.

            Quando estamos alegres, o pensamento surge sobre coisas boas e as recordações são sempre agradáveis. Por estas razões, o pensamento, a palavra e o trabalho dependem muito do estado de espírito de quem pensa, fala, escreve, ou desempenha qualquer trabalho”.

                        (Manoel Neto Teixeira, autor, dentre outras, da obra GARANHUNS – ÁLBUM DO NOVO MILÊNIO (1811-2016), é membro da Academia Pernambucana de Letras Jurídicas). E-mail: polysneto@yahoo.com.br


A grande disputa - Aninha Marques


 






As pessoas estão brigando por tudo e tudo virou disputa! Quem tem mais razão, quem tem os melhores argumentos, quem é mais elogiado, quem tem mais audiência, quem recebe mais curtidas e assim segue a lista. A ausência da paz interior torna tudo uma disputa de egos e quando alguém não consegue ser o melhor, se sente frustrado e ansioso, já pensando no próximo passo, na próxima investida e o que fazer para ser ou continuar sendo "o melhor!" A competição e a vaidade são máquinas de fazer tristeza, e pouco a pouco, o vazio da alma adoece o corpo.

segunda-feira, 2 de agosto de 2021

Habeas Corpus da Idade - MERALDO ZISMAN MÉDICO PSICOTERAPEUTA.


 






Alcancei a idade de 87 anos. De que valeria alcançar esta idade, se toda sabedoria do Mundo fosse uma tolice? Atingi o estágio da vida em que posso me dar ao luxo de dizer o que penso, sem temer pelo que possa acontecer com a minha biografia.

Começo dizendo: repudio a condição do velho que somente se faz estimável pela sua longevidade. Poucas pessoas sabem ser velhas. Não devemos levar as nossas falhas juvenis para a velhice, a velhice traz com ela seus próprios defeitos Os velhos têm pouca memória, mas em troca adquiriram bom senso e prudências aprendidas ao longo da vida.
Aos jovens dou um conselho (apesar de dizerem por aí que conselho de velho é como o sol de inverno, aclara sem esquentar):

 “Torna-te velho cedo, se quiser ser velho por muito tempo (Cícero [106 – 49 a.C.] Da velhice, X.)”.

Irrito-me quando um jovem, pensando ser “politicamente correto”, começa a me tratar com muitos cuidados. Por favor, deixe-me fazer o que entendo: cometer imprudências, desobedecer, brincar, falar sem censura e outras coisas mais. Desde que não me torne em um velho ridículo; difícil, pois já entendi também o meu lugar social. Além disso, velho que não tem juízo nunca o teve.

Permitam-me falar desta vez, mesmo sem autorização da maioria do meu grupo etário, aos que se julgam jovens e tudo saber: liberte-nos de vossas fatigantes e asfixiantes bondades. Esses seus cuidados são temores que machucam. Vocês precisam entender que não somos velhos enquanto buscamos viver como todo mundo. Nós podemos pegar coisas pesadas, sim, podemos raciocinar corretamente, sim. Não fossem as lembranças da mocidade, os velhos não se ressentiriam da velhice.


O nosso mal-estar reside em não poder fazer mais o que fazíamos outrora. E vocês se esquecem de que idosos sadios são criaturas tão perfeitas quanto os moços saudáveis.  E lembrem-se todos: os velhos morrem quando não são mais amados.

Procure-nos. Desejamos conversar com todos vocês de todas as idades. Pois, já fomos jovens e também pensávamos como vocês — de tudo saber.

Vocês jovens podem ser muito espertos e rápidos nesses tempos da computação, mas não têm nossa experiência. Temos muito para lhes ensinar. Se a velhice é uma segunda infância é prudente saber que  A criança é o pai do Homem.


 Estou às ordens. Basta procurar-me. Velho sabido espera a visita dos jovens que nunca vão procurar-me, primeiro.  Não obstante, confesso.
Mas que saudades das horas loucas da mocidade!  Mesmo sem a proteção de habeas “corpus”. 


quarta-feira, 21 de julho de 2021

HOJE, UMA NOVA ETAPA - Gonzaga Matos


 






A data de hoje, em razão de um evento especial que a cerca, leva-me para um momento distante de minha vida. Estava naquela fase gostosa da infância, descobrindo novos caminhos. Ali no beabá, soletrando as placas das ruas e avançando pelas aventuras de Pedrinho e a turma do Sítio do Pica-pau amarelo, começavam as etapas da minha jornada. Naquele momento, hoje tão distante, que minha memória insiste em mantê-lo vivo, eu, à frente dos colegas e professoras, na comemoração do Dia da Árvore, declamava: Minha enxadinha trabalha bem. Corta matinhos, num vai e vem. Minha enxadinha vai descansar para amanhã recomeçar. Adeus rocinha!

Naquele dia, junto com meus amiguinhos plantava a pequena muda de uma árvore.

O tempo correu rápido e hoje meus quatro filhos e cinco netos trazem-me à alegria de viver. Cada um deles provoca-me a lembrança de lindos momentos da vida. A sonoridade dos chamamentos “papai” e “vovô” tem um sabor especial e soam como música aos nossos ouvidos. Eles crescem e gostam de ombrear-se conosco para mostrar que já estão mais altos. Pela cabeça deles não passa, certamente, a ideia do peso dos anos. Que acabam até por nos “roubar” alguns centímetros. Ontem, por exemplo, meu neto insistiu em colocar seu pé ao lado do meu para mostrar que já estava calçando tênis do mesmo número.

Nesses dias colho com filhos e netos a seiva que me anima a viver com mais intensidade esta vida.

Hoje avanço mais um degrau nesta caminhada. Estou prestes a completar o ciclo que a sabedoria popular define como importante legado a nos fazer lembrado. Este 15 de julho, dia de meu aniversário, ficará marcado como o dia em que me presenteei com a materialização de um antigo desejo: estou enviando meu livro para a gráfica!

Um prazer especial sinto ao imaginar os netos mostrando aos amigos o meu primeiro livro (espero poder concluir outros já iniciados) e dizendo: este livro foi meu avô Zaga quem escreveu!

Meu livro “Memórias de um Boêmio de Chinelos” tem, inclusive, sua identidade...

Reserve seu exemplar pelo Whatsapp 47 99925 6161.


segunda-feira, 5 de julho de 2021

O QI médio da população mundial diminuiu nos últimos vinte anos - Christophe Clavé

 

Parece que o nível de inteligência medido pelos testes diminui nos países mais desenvolvidos. Pode haver muitas causas para esse fenômeno.

Um deles pode ser o empobrecimento da linguagem. Na verdade, vários estudos mostram a diminuição do conhecimento lexical e o empobrecimento da linguagem: não é apenas a redução do vocabulário utilizado, mas também as sutilezas linguísticas que permitem elaborar e formular pensamentos complexos. O desaparecimento gradual dos tempos (subjuntivo, imperfeito, formas compostas do futuro, particípio passado) dá origem a um pensamento quase sempre no presente, limitado ao momento: incapaz de projeções no tempo.

A simplificação dos tutoriais, o desaparecimento das letras maiúsculas e da pontuação são exemplos de "golpes mortais" na precisão e variedade de expressão. Apenas um exemplo: eliminar a palavra "senhorinha" (agora obsoleta) não significa apenas abrir mão da estética de uma palavra, mas também promover involuntariamente a ideia de que entre uma menina e uma mulher não existem fases intermediárias. Menos palavras e menos verbos conjugados significam menos capacidade de expressar emoções e menos capacidade de processar um pensamento.

Estudos têm mostrado que parte da violência nas esferas pública e privada decorre diretamente da incapacidade de descrever as emoções em palavras. Sem palavras para construir um argumento, o pensamento complexo torna-se impossível. Quanto mais pobre a linguagem, mais o pensamento desaparece. A história está cheia de exemplos e muitos livros (Georges Orwell - "1984"; Ray Bradbury - "Fahrenheit 451") contam como todos os regimes totalitários sempre atrapalharam o pensamento, reduzindo o número e o significado das palavras.

Se não houver pensamentos, não há pensamentos críticos. E não há pensamento sem palavras. Como construir um pensamento hipotético-dedutivo sem o condicional? Como pensar o futuro sem uma conjugação com o futuro? Como é possível captar uma temporalidade, uma sucessão de elementos no tempo, passado ou futuro, e sua duração relativa, sem uma linguagem que distinga entre o que poderia ter sido, o que foi, o que é, o que poderia ser, e o que será depois do que pode ter acontecido, realmente aconteceu?

Caros pais e professores: Façamos com que nossos filhos, nossos alunos falem, leiam e escrevam. Ensinar e praticar o idioma em suas mais diversas formas. Mesmo que pareça complicado. Principalmente se for complicado. Porque nesse esforço existe liberdade. Aqueles que afirmam a necessidade de simplificar a grafia, descartar a linguagem de seus "defeitos", abolir gêneros , tempos, nuances, tudo que cria complexidade, são os verdadeiros arquitetos do empobrecimento da mente humana.

Não há liberdade sem necessidade. Não há beleza sem o pensamento da beleza.

Resistência e violência contra a mulher em diferentes tempos- Professor e Historiador Eduardo Silva.







As fugas de escravos no século XIX eram punidas com violência que, muitas vezes, ultrapassava os limites permitidos pelo costume senhorial. Um caso interessante, é o da surra sofrida pela escrava Luíza, que resultou num extenso processo judicial, iniciado em 1868. Luiza, como destaca a fonte, tinha “o hábito inveterado de fugir”, e “havendo chegado de uma fugida em certa ocasião”, no dia 12 de fevereiro de 1868, levou uma surra de “chicote de arreio” nas nádegas. Ao que parece, o instrumento de suplício agravou ainda mais o castigo, provocando cortes nas suas nádegas. Agravou a tal ponto, que chamou a atenção do subdelegado de Correntes, termo de Garanhuns, que prendeu o agressor Eugênio de Mello. A escrava Luiza era propriedade de três senhores, mas só um deles, Eugênio de Mello, foi preso na cadeia da vila de Garanhuns, e processado. O interessante é perceber que Luiza tinha uma rotina de fugas, isso porque, como destaca a fonte, voltava para a casa dos seus proprietários, por vontade própria. Ao que tudo indica, cada escapadela era punida com um castigo mais intenso e prolongado. O que chama a atenção é que em 2017, 149 anos depois, o portal de notícias de Dárcio Rabêlo, de Arcoverde-PE, noticiava que uma “Mulher foi agredida, com um chicote pelo companheiro em Sertânia”. Ao que parece, a violência contra a mulher na nossa região com instrumentos de suplício perpassa o tempo da escravidão. No que diz respeito a resistência das mulheres, vale lembrar que elas não são passivas. Independentemente do tempo histórico, a resistência das mulheres se fez presente. Não custa lembrar, que ambas as mulheres identificadas nesse ensaio resistiram de alguma forma contra a violência. Fugindo consecutivamente, ou denunciando o agressor. Tendo em vista essa percepção, outros questionamentos começam a surgir. Tais como: a semelhança desses casos de violência são meras coincidências? Assim como no passado, o estigma da violência contra a mulher é recorrente? Por fim, este pequeno ensaio é resultado de algumas reflexões da minha dissertação de mestrado.


Mestre em História pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Especialista em Ensino de História pela FAVENI (Rede Futura de Ensino); É Licenciado em História pela Universidade de Pernambuco (UPE)/ Campus Garanhuns, onde desenvolveu pesquisa sobre a história da escravidão oitocentista no Agreste de Pernambuco. É autor do Trabalho de Conclusão de Curso intitulado “Agreste pernambucano: região, produção e propriedade cativa, 1822-1850”. Foi professor voluntário no Programa Institucional de Bolsas de Iniciação a Docência e ministrou como professor convidado, o Curso de Extensão Universitária “A liberdade conquistada: do fim do comércio Atlântico de escravos ao contexto do pós-abolição no Brasil” (2017). Atualmente desenvolve pesquisas com ênfase na História da escravidão no Agreste de Pernambuco.

sexta-feira, 2 de julho de 2021

Grandes Vultos - Salomé Silva


 







Immanuel Kant escreveu algumas das principais obras filosóficas da Modernidade. Personalidade influente no meio intelectual de sua cidade e membro da Real Academia das Ciências de Berlim, curiosamente, o pensador nunca saiu de sua cidade natal, Königsberg.

Kant fundou uma nova teoria do conhecimento, chamada idealismo transcendental, e a sua filosofia, como um todo, fundou o criticismo, corrente crítica do saber filosófico que visava, como queria Kant, a delimitar os limites do conhecimento humano.

As obras de Kant possuem uma rara erudição, um estilo literário único e um rigor metodológico e filosófico inigualável. Professor da Universidade de Königsberg por quase cinco décadas, o docente e pesquisador dedicou-se a escrever sobre LógicaMetafísica, Teoria do Conhecimento, Ética e Filosofia moral.

Jaqueline Salomé

Immanuel Kant 

Filho de uma família chefiada por um artesão descendente de escoceses, Kant nasceu na cidade de Königsberg, na Prússia Oriental, em 22 de abril de 1724. Sua família tradicional protestante marcou a sua vida e relação com a religião. O grande pensador da Modernidade não se dizia ateu, mas sempre manteve uma relação polêmica com a religião por defender, em seu criticismo que somente podemos conhecer aquilo que podemos intuir, ou seja, aquilo que podemos ver, ouvir, de fato experimentar.

Aos 16 anos de idade, Immanuel Kant entrou para o curso de Teologia da Universidade de Königsberg, onde começou a aprofundar os seus estudos em Filosofia, principalmente em Leibniz. Também se interessou por Física e Matemática, inclusive escrevendo sobre Ciências Naturais.

Em 1746, o falecimento de seu pai fez com que o filósofo fosse obrigado a trabalhar como preceptor, ensinando os filhos de famílias ricas de Königsberg. Para sua sorte, o pensador conquistou certo prestígio e conseguiu adentrar no meio intelectual da cidade, devido à influência adquirida como preceptor e à sua inteligência incomum.

Em 1754, o filósofo retornou para a universidade, onde se doutorou em Filosofia e passou a lecionar como livre docente. Em 1770, o filósofo e professor de Königsberg passou a ocupar a cátedra de Lógica e Metafísica da Universidade de Königsberg, cargo que ocupou até a sua morte.

A entrada como professor catedrático também impulsionou os trabalhos filosóficos de Kant, que se ocupou de suas principais obras, as quais promoveriam o que ele chamou de “revolução copernicana da Filosofia”, devido à sua inclinação para o criticismo, que resolveria os impasses de filósofos e correntes filosóficas anteriores.

Kant foi proibido de escrever sobre religião pelo Rei Frederico Guilherme II, da Prússia, devido às suas teses polêmicas, que levariam a uma espécie de agnosticismo intelectual. Kant publicou textos sobre religião somente em 1797, após a morte do rei.

Alguns dos principais livros de Kant são: Crítica da razão pura, Crítica da razão prática, Crítica da faculdade de julgar e Fundamentação da Metafísica dos costumes. Extremamente rigoroso e metódico, o filósofo nunca se casou e não teve filhos, dedicando-se, quase integralmente, à pesquisa e à docência em Filosofia. Curiosamente, o pensador prussiano nunca saiu de sua cidade natal, e sua extrema erudição e seu conhecimento geral eram obtidos por meio de leituras e contato com pessoas de fora.

Kant comparou a si mesmo com Copérnico, que reverteu a forma como vemos o sistema solar, na medida em que seu trabalho promoveu uma revolução similar na filosofia. Isto ocorreu quando Kant demonstrou como os problemas metafísicos tradicionais poderiam ser superados pela suposição de que a concordância entre os conceitos que usamos para conceber a realidade e a própria realidade surge da conformação desta realidade a mente humana, de modo ativo e de forma que todos os humanos possam experimenta-la, e não porque nossos conceitos mentais passivamente reflitam a realidade, sem nada adicionar. Destarte, para Kant, a experiência era de extrema importância, mas a mente humana era a condição de possibilidade para qualquer experiência. A mente humana é o que nos permite transcender a mera atitude passiva em relação a realidade e termos experiências genuínas.

Em sua Crítica da Razão Pura, de 1781, Kant leva este trabalho a cabo e busca afastar ceticismo de filósofos como David Hume, promovendo a dissolução do impasse entre racionalistas e empiristas. Sua posição não implica em relativismo da realidade, de fato Kant defende uma realidade objetiva, para a qual cunhou o termo "coisa em si", porém, se não pelas configurações específicas da mente humana a experiência da coisa em si é impossível, de modo que só temos acesso ao resultado de nossos conceitos aplicados sobre a realidade, para o que utilizou o termo "fenômeno". Desta forma, não temos acesso a coisa é si, mas a mente humana não altera a realidade, enquanto coisa em si, ela altera a nossa experiência da realidade, o fenômeno, em última instância, a mente humana torna possível a experiência.  

Devido a estas mesmas configurações, conceitos como espaço e tempo são compartilhados por todas as mentes, de modo a tornar possível a comunicação, o conhecimento e a moral.

Em ética, seu principal legado é o conceito de imperativo categórico, que utilizou para afastar a visão utilitarista.

Em termos de filosofia política, Kant foi uma expoente da ideia de que a Paz Perpétua seria o resultado da história universal, sendo atingida, em algum momento, e garantida sem um planejamento racional, mas pela cooperação internacional. O autor defendeu um estado baseado na lei, ou uma reunião de indivíduos sob a lei, com um governo republicano. Kant recusou a democracia direta, pois esta oferece risco a liberdade individual, comparando a democracia com o despotismo, uma vez que esta estabelece um poder executivo que pode governar contra a liberdade dos indivíduos que discordam da maioria. Criticou ainda que a democracia é normalmente identificada com a ideia de que todos governam, mas de fato o "todo" não é a totalidade. O autor propunha um governo misto, composto de elementos da democracia, aristocracia e monarquia, o que deveria servir para evitar as suas formas degeneradas, respectivamente anarquia, oligarquia e tirania.

As posições e teorias de Kant continuam a ser estudadas ativamente, em campos clássicos como a política e a metafísica, assim como em campos contemporâneos como a ciência cognitiva e filosofia da psicologia. Entre seus maiores críticos encontramos os filósofos Arthur Schopenhauer e Johann Georg Hamann.

 

Fonte: https://www.infoescola.com/biografias/immanuel-kant/