
quinta-feira, 3 de fevereiro de 2022
terça-feira, 11 de janeiro de 2022
quarta-feira, 27 de outubro de 2021
CEMITÉRIO: PALCO DE LÁGRIMAS E REFLEXÕES - MANOEL NETO TEIXEIRA
O
principal cemitério de Garanhuns, o São Miguel, onde estão sepultadas
celebridades da política, das artes, da cultura, do jornalismo e do
empresariado da cidade, passa atualmente por grave crise quanto à limpeza e
segurança: o mato e o lixo espalhados de canto e canto, túmulos e mausoléus invadidos
e suas peças de bronze, alumínio, ferro, em forma de jarros, quadros e placas
levados pelos ladrões, na ausência completa de vigilância noturna. Até os
telhados de brasilite são extraídos e levados, reiteradamente, sem qualquer
ação por parte da edilidade, a quem o “campo santo” está atrelado. Vamos ter,
agora, um dos mais tristes Dia de Finados, quando os familiares costumam
visitar os túmulos dos entes queridos.
Passei
boa parte do tempo desses dias que antecedem ao Dia de Finados, lá no São
Miguel, repondo o telhado extraído pela segunda vez, reinstalando peças e
reforçando a segurança no que é possível do mausoléu onde repousam meus entes
queridos, da primeira à quarta gerações. Suficiente para observar e documentar
esse abandono em que se encontra o maior cemitério de Garanhuns. Entre os
inúmeros túmulos violentados está o de Dominguinhos, celebridade da sanfona e
da composição que brilhou nacionalmente. Repus pela segunda vez o telhado e
outros danos causados ao túmulo da minha família.
Tempo
suficiente para circular por entre túmulos e mausoléus de celebridades de
Garanhuns, fazendo algumas anotações, face à importância dos que lá repousam,
para a política, a cultura e a história da terra. Foram momentos de emoção e
reflexão ao parar, por exemplo, frente ao túmulo da família Moraes, com os
quais tive o privilégio de conviver e colher lições inapagáveis, antes de
partir para o Recife: Raimundo Atanásio de Moraes e sua consorte Obdúlia
Atanásio de Moraes, ele, odontólogo, vereador por vários mandatos, presidiu a
Câmara Municipal, que leva hoje o seu nome, e os filhos Claudio Alves de Moraes
(jornalista), Humberto Alves de Moraes (jornalista, político e cronista,
vereador e vice-prefeito ao lado do prefeito Souto Dourado), e Maria de Lourdes
de Moraes, minha professora no curso primário no Colégio Diocesano, anos
50.”Descansem em Deus e que a luz Divina os ilumine”.
Passo
adiante e eis-me frente aos mausoléus da família Valença. No primeiro, e de
maior extensão, repousam o casal Abílio
Camilo Velença e sua consorte Emília
da Mota Valença, e os filhos Abgar
(padre), Almira, Arlinda, Alódia e
Alcinda, de relevantes serviços prestados a Garanhuns e toda região
agreste, no campo da educação e da cultura, conforme está registrado no livro
de nossa autoria Garanhuns – Álbum do
Novo Milênio (1811-2016): “Não se pode escrever a história do
desenvolvimento educacional desta cidade, ao longo do século XX, sem o concurso
dessas mestras que tanto contribuíram para a instrução de várias gerações, ao
lado do seu irmão o carismático padre-monsenhor Adelmar da Mota Valença, cujo
corpo repousa na Catedral de Garanhuns, ao lado dos bispos que também já estão
noutra dimensão. Frente a esse extenso mausoléu está o do ex-prefeito (por dois
mandatos) Amílcar da Mota Valença,
dos mais aplaudidos e respeitados como homem público de toda região agreste.
“Suas boas ações o conduziram ao Céu”.
No
túmulo do meu tio, industrial do famoso vinho Galvão, Júlio Jacinto, está escrito: “Saudade do seu exemplo e amor”. No
do meu querido pai, Henrique Jacinto da
Silva, também conhecido pelo nome de “Zé Jacinto”, está escrito:
“O
homem passa, mas permanece sua obra, seu exemplo de amor ao trabalho, à família
e aos amigos, principalmente quando calcado na ética e na dignidade. Henrique
Jacinto da Silva foi sempre assim, um facho a iluminar caminhos, estradas e
veredas, Brasil afora.
Familiares
e amigos – estes, são incontáveis, pelo Brasil que ele tão bem conheceu como
peregrino da paz, do trabalho, do amor e da alegria, todos, uníssonos, nesta
hora de dor e saudade eterna, elevamos nossas preces pelo pai, irmão e amigo
desencarnado.
Caríssimo
pai, esposo, avô, irmão, amigo Zé Jacinto: todos nós estamos sempre ao seu
lado, pois a matéria passa, mas a união espiritual transcende os limites do
nosso dia a dia e se projeta qual luz inapagável”. Repouse em paz”.
Cemitério,
recanto de lágrimas, saudades e preces. Mesmo sujo e aspecto de abandono, o
nosso São Miguel será palco dessas manifestações, nesse Dois de Novembro.
Concluo com um poema da nossa série Multivisão,
volume IV:
SAUDADE
Saudade
é bálsamo
Para
homem e mulher
Embala
silêncio, solidão
Mas
querença requer.
Ela
chega de repente
De
forma inesperada
Alegra
quem a sente
Dia,
noite, madrugada.
Reduz
as distâncias
Ataca
em qualquer lugar
Sacia
a dor da ausência
Para
quem sabe amar.
(Manoel Neto Teixeira, jornalista e historiador, autor, dentre outras, da obra Pinto Ferreira, Vida e Obra, prêmio da Academia Pernambucana de Letras, categoria Ensaio, edição 2010, é membro da Academia Pernambucana de Letras Jurídicas, Cadeira 44). E-mail: polysneto@yahoo.com.br
quinta-feira, 14 de outubro de 2021
Templo sagrado de luz e saber - Ivo Tinô do Amaral
quarta-feira, 6 de outubro de 2021
SEM DÚVIDA, EMOÇÕES! - Luiz Gonzaga de Mattos
A DIVINA COMÉDIA E OS EMBATES POLITICOS - Manoel Neto
A
Divina Comédia, de Dante Alighiere,
clássico da literatura universal, concebida no século XIV, com dimensões nos
campos histórico, mitológico, filosófico, religioso e político, compõe-se de
três volumes versando sobre Inferno, Purgatório e Paraíso.
A
obra abarca todos os sentimentos humanos – bons e maus -, com repercussão na
vida real, aqui na terra, e além túmulo.
Nascido
em Florença, em 1265, então cidade-estado republicana, com autonomia política e
econômica, entreposto comercial e centro cultural da Itália, era berço de
poetas e artistas.
Dante
foi envolvido desde cedo pelos embates políticos de sua terra, assolada pelas
disputas entre as correntes do Partido dos Guelfos e o Partido dos Gibelinos. A
ponto de ter sido impelido a deixar definitivamente sua terra, passando a viver
no exílio em Verona, Bolonha e Ravena.
O
poema é narrado na primeira pessoa (o próprio autor), qual peregrino
representante do homem medieval, espremido entre a cultura clássica e a
tradição cristã, em busca de excelência moral e espiritual.
Escrita
no italiano vulgar, da época, baseado no dialeto toscano, próximo ao italiano
atual, o autor narra a própria caminhada, com paradas e observações das cenas que
ocorrem nas três estações, classificadas pelo próprio texto bíblico como
Inferno, Purgatório e Paraíso.
Levado
pela mão do também poeta Virgílio,
autor do clássico A Eneida, Dante
conhece o Inferno e o Purgatório, onde encontra os pecadores que lá se
encontram, para depois chegar ao Paraíso, onde abraçaria sua musa Beatriz.
Enquanto
o Inferno responderia pela depressão do Mar Morto, onde todas as águas
convergem, o Purgatório e o Paraíso são círculos concêntricos que, juntos,
responderiam pela mecânica celestial.
Os
cenários comentados pelo autor envolvem personagens bíblicos, do Antigo ao Novo
Testamento, enquanto os personagens principais da obra são o próprio autor, que
realiza uma jornada espiritual pelos três reinos do além-túmulo, e Virgílio, seu guia e mentor nessa
empreitada.
Dante
e Virgílio chegam ao vestíbulo do Inferno (que tem nove círculos). Entre o
vestíbulo e o primeiro círculo está o rio Aqueronte, no qual se encontra Caronte, barqueiro que faz a travessia
das almas.
Embora
hesitante para conduzir os dois personagens, por serem aparentemente pesados, o
barqueiro é convencido por Virgílio a
realizar a empreitada, pois se trata de uma ordem celestial. Fazem a travessia
e chegam ao Limbo, local onde as almas que não puderam escolher a Cristo, mas
escolheram a virtude, vivem a vida que imaginaram ter após a morte.
“Na
mitologia clássica, o Limbo não fica no Inferno, mas suspenso entre o Céu e o
mundo dos mortos. Na poesia de Dante, não se tem uma noção precisa de como se
chegar lá, pois o poeta desmaia no ante-inferno e quando acorda já está no
Limbo, o primeiro círculo infernal”.
Dante se reporta aos atritos que teve com o papa Bonifácio VIII, de quem se tornara
opositor, tendo colocado o sumo pontífice no Inferno antes mesmo de sua morte.
A
amargura do exílio está registrada em várias parte de a Divina Comédia, como no
Canto-III do Inferno, referindo-se ao papa Celestino-V: “Depois disso reconheci
uma sombra daquele que, por covardia, perpetrou a grande renúncia”.
Com
base na tradução de José Pedro Xavier
Pinheiro, editora Principis, edição 2020, transcrevemos a seguir as
introduções às chegadas dos personagens ao Inferno, Purgatório e ao Paraiso.
O INFERNO
“Chegam
os poetas à porta do Inferno, na qual estão escritas terríveis palavras. Entram
e no vestíbulo encontram as almas dos ignavos, que não foram fieis a Deus nem
rebeldes. Seguindo o caminho, chegam ao Aqueronte, onde está o barqueiro
infernal, Caronte, que passa as almas
dos danados à outra margem, para o suplício. Treme a terra, lampeja uma luz, e
Dante cai sem sentidos!”. A seguir, os quatro primeiros versos do Canto-III:
Para
mim se vai das dores à moradia,
Por
mim se vai ao padecer eterno,
Por mim se vai à gente condenada.
Moveu
Justiça o Autor meu sempiterno,
Formado
fui por divinal possança,
Sabedoria
suma e amor supremo.
No
existir, ser nenhum a mim se avança,
Não
sendo eterno, e eu eternal perduro:
Deixai,
ó vós que entrais, toda a esperança!
Estas
palavras, em letreiro escuro,
Eu
vi, por cima de uma porta escrito.
“Seu
sentido”, disse eu, “Mestre me é duro”.
O PURGATÓRIO
Ao
sair do Inferno, Dante respira
novamente o ar puro e vê fulgentíssimas estrelas. Encontra-se na ilha do
Purgatório. O guardião da ilha, Catão
Uticense, pergunta aos dois poetas qual é o motivo da sua jornada. Logo
após, ele os instrui relativamente ao que devem fazer, antes de iniciar a subida
do monte”.
A
seguir, os quatro primeiros cantos sobre o Purgatório:
Do
engenho meu a barca as velas Solta
Para
correr agora em mar jucundo,
E ao
despiedoso pego a popa volta.
Aquele
reino cantarei segundo,
Onde
pela alma a dita é merecida
De
ir ao céu livre do pecado imundo.
Ressurja
ora a poesia amortecida,
Ó
Santas Musas, a quem sou votado;
Unir
ao canto meu seja servida.
Calíope
o som alto e sublimado,
Que
às Pegas esperar não permitira
Lhes
fosse o atrevimento perdoado.
O PARAISO
“Invocando
Apolo, o Poeta canta como do Paraíso Terrestre ele e Beatriz se alçaram ao Céu,
atravessando a esfera do fogo. Beatriz explica-lhe como possa vencer o próprio
peso e subir. É atraído pelo invencível amor.
“Seguindo
as teorias de Ptolomeu, Dante põe a terra imóvel no centro do Universo e, ao
redor dela, em órbitas concêntricas, os céus da Lua, de Mercúrio, de Venus, do
Sol, de Marte, de Júpiter, de Saturno, a oitava esfera, que é a das estrelas
fixas, a nona, ou primeiro móvel, e finalmente o Empíreo, que é imóvel.
Transportado pela força que faz rodar os céus e pela luz sempre crescente de
Beatriz, Dante eleva-se de um céu para outro, e em cada um deles aparecem-lhe
os espíritos bem-aventurados que, quando vivos, possuíam a virtude própria do
respectivo planeta”.
Os
três primeiros cantos sobre o Paraíso:
À
glória de quem tudo, aos seus acenos,
Move,
o mundo penetra e resplandece,
Em
umas partes mais em outras menos.
No
céu onde sua luz mais aparece,
Portentos
vi que referir, tornando,
Não
sabe ou pode quem à terra desce;
Pois,
ao excelso desejo se acercado,
A
mente humana se aprofunda tanto
Que
a memória se esvai, lembrar tentando.
(Manoel Neto Teixeira,
jornalista e escritor, autor, dentre outras obras, da série MULTIVISÃO (já no oitavo volume), é
membro da Academia de Letras de Garanhuns). E-mail: polysneto@yahoo.com.br
Donald Woods Winnicott(pediatra e psicanalista) - Meraldo Zisman, M.D.