Uma
das invenções mais significativas e abrangentes da história da humanidade foi
sem dúvida a imprensa tipográfica, pelas mãos do sábio alemão Johann Gutenberg,
década de 1430, assinalando a passagem da Idade Média para a Idade Moderna.
Com
a invenção dos tipos móveis surge a máquina tipográfica (impressora) e daí a
reprodução da palavra, frases e textos em forma de livros, sendo a bíblia o
primeiro a ser impresso, conforme os registros. A invenção de Gutenberg foi tão
revolucionária que só pode ser comparada ao surgimento agora do computador e da
reprodução digital da escrita, na opinião de estudiosos da matéria.
A
invenção da imprensa foi utilizada como ferramenta básica nas transformações
que marcariam o Renascimento, nos seus múltiplos aspectos, lastreando a
passagem para a modernidade.
Além
da impressão do texto bíblico, tal como o conhecemos até hoje, a imprensa foi
utilizada como meio para a Reforma Protestante, no século XVI. Verdadeira
revolução no terreno da escrita e da leitura, com a produção de textos
diversos, motivando o confronto de ideias e concepções sobre o universo e a
vida – vegetal e animal (onde se inclui o homem como ser racional).
A
escrita até então restringia-se a modos de réplica muito limitados, como as
tabuinhas com escrita cuneiforme dos povos sumérios, os papiros egípcios, os
ideogramas chineses, entre outras formas de reprodução, cujo acesso era
restrito a pequenos grupos de pessoas, geralmente ligadas aos palácios
imperiais.
Fazia-se
um molde com os caracteres móveis e, a partir dele, imprimiam-se quantas cópias
o estoque de tinta, à base de óleo, suportasse. O nome que passou a ser dado ao
conjunto de papeis impressos em caracteres móveis foi códice, do Latim, códex.
Com as máquinas de impressão tipográficas
tivemos a proliferação de periódicos – jornais, revistas, livros e tantos
outros impressos, ensejando o surgimento de atividades e profissões – gráficos,
jornalistas, editores, revisores, tipógrafos, em todos os recantos do planeta.
Passam os periódicos a ser instrumentos indispensáveis aos regimes políticos em
geral, de modo especial às democracias representativas, como é o caso do
Brasil.
A
imprensa é classificada como “o quarto poder”, ao lado do Executivo,
Legislativo e Judiciário, conforme ocorre em todos os regimes democráticos. É
imensurável a sua contribuição ao desenvolvimento das relações sociais, das
ciências, das artes, da literatura e demais formas de comunicação entre os
povos.
Mas
a inventividade do homem não tem limites, eis que de tempos em tempos vão
surgindo novas técnicas e instrumentos de comunicação e de produção nos
diversos setores de atividades, dos campos às cidades, acrescentando, quando
não suprimindo, antigas práticas. Assistimos, agora, melancólica e tristemente,
ao fim dos jornais impressos, de canto a canto do país, dando vez à comunicação
eletrônica, com a informática e a internet.
Após
concluir os estudos básicos e o segundo ciclo (Clássico) no Diocesano de
Garanhuns, 1965, ano do cinquentenário do nosso “Gigante da Praça da Bandeira”,
como era por todos – alunos e professores – proclamado esse educandário,
dirigido por 44 anos ininterruptos por Mons. Adelmar da Mota Valença,
transferi-me para o Recife a fim de realizar meus estudos universitários. Era
1966, quando fiz o vestibular para a Faculdade de Jornalismo da Universidade
Católica. Ao mesmo tempo, submeti-me a um “teste” para atuar como repórter do
Diário de Pernambuco, pelas mão e olhar atento do diretor, jornalista Antônio
Camelo (de saudosa memória).
Feliz
início, para mim, pois levava a cabo o estudo teórico na Faculdade e a prática
no meu dia a dia de repórter do DP. Conclui Jornalismo em 1968, naquela turma
de tantos amigos e companheiros como Jones Figueiredo Alves, Marcílio Viana
Luna, Antônio Martins, Jones Melo, padres Florisval e Hildebrando, entre
outros. A secretária da Faculdade, à época, Wânia Nóbrega, jovem de apenas 15
anos, hoje, por ironia do destino, minha companheira.
A
profissão de jornalista no Brasil só veio a ser regulamentada em 1969. Até aí
podia-se trabalhar nas redações dos jornais e revistas sem o diploma
universitário. Pois bem, desde então me acostumei a ler jornal impresso como a
primeira atividade do dia, principalmente o velho/novo DP, conferindo o
tratamento que o editor havia dado, dia anterior, aos meus textos (notícias e
reportagens). Agora, órfão dessa leitura, tenho que conviver e me inserir às novas
formas (online) de leitura. O fim dos jornais impressos no Brasil segue um
imperativo capitalista, além, claro, da força transformadora da internet.
Para
mim, a morte (anunciada) concretizou-se na manhã daquele sábado da última
semana de abril de 2021, quando me dirigi à banca para adquirir o jornal
impresso e recebi a triste notícia de que os jornais impressos (Diário de
Pernambuco, Jornal do Commercio e Folha de Pernambuco) saíram definitivamente
de circulação.
Tenho,
pois, motivos pessoais para fazer este registro, meu desencanto com o fim dos
jornais impressos: ainda adolescente em Garanhuns já experimentava o fascínio
de ver, nas oficinas do jornal O MONITOR, do qual me tornaria colaborador,
apesar da pouca idade, o manuseio dos tipos móveis na formação de cada palavra,
frases e parágrafos, compondo as notícias, reportagens e artigos dos
profissionais e colaboradores desse veículo. Sensação que se ampliaria ao me
transferir para o Recife e iniciar minhas atividades de repórter do DIÁRIO DE
PERNAMBUCO, início de 1967.
O
parque gráfico do DP ocupava todo o primeiro andar do histórico prédio da Praça
da Independência (Pracinha). Quantas vezes lá comparecíamos para dirimir
dúvidas sobre esse ou aquele texto, preparados por cada profissional, na redação
(ocupávamos todo o segundo andar do edifício), sob a supervisão dos editores.
Foram 20 anos (1967/87) de militância como repórter, revisor de originais e
editor de texto do DP, certamente minha principal “academia” como trabalhador
da comunicação social. Tempo inesquecível: o companheirismo, amizades,
aprendizagens, sonhos e emoções, divididos/somados com nomes de expressão do
jornalismo e da própria cultura pernambucana.
Qual
não era a emoção ao manusear cada edição, que começava a circular em plena madrugada
do novo dia, trazendo nossas matérias e dos companheiros, bem como as que
chegavam através das agências de notícias, nacionais e internacionais, os
telégrafos. Impressas em cada edição do nosso DP, o mais antigo em circulação
da América Latina (07-09-1825). Esquecer tudo isso não é fácil, com todo
respeito às novas ferramentas. Década de 80, vivenciamos a mudança das
linotipos para o offset. Mas agora, tudo é diferente, do texto impresso para a
leitura online. Não é fácil acostumar.
(Manoel Neto Teixeira,
autor, dentre outras publicações, da coleção MULTIVISÃO, com VIII volumes, é
membro da Academia Pernambucana de Letras Jurídicas). E-mail:
polysneto@yahoo.com.br