quarta-feira, 9 de dezembro de 2020

Seus cachorros! William Santiago







Voltar pra casa tarde da noite. Se fosse de tardinha, teria visto as cores do outono impressas nas árvores. As mil cores, os meios-tons do outono. À noite não. As ruas são bem iluminadas, mas as sombras são sempre sombras. Assovio pra esquentar o corpo e espanar o medo que, em tais momentos, costuma subir à espinha que nem poeira.

As sombras são sempre sombras. No caminho de casa, todas as casas têm cachorros e há sombras enormes, cachorros enormes, sombras e cachorros amedrontadores. Voltar pra casa à noite dá uma bambeza que começa, acho, nos cotovelos e se esparrama pelo corpo todo, até bater lá no coração. Gelo. Gelo de medo dos gigantes que vou enfrentar nessa rua estreitinha e pequena que é a mais comprida rua do mundo. Como se eu fosse o buscador do velo de ouro e eles os guardiões apaixonados, nascem cachorros de cada portão da rua, brotam sentinelas de cada jardim. Não gostam de mim ou pressentem que tenho medo. Emito vibrações, lá isso é verdade. Ou será porque sou estrangeiro? Cabelo escuro, aspecto subdesenvolvido. Talvez seja isso que os açule contra mim.

Daquele portão, por exemplo, há de surgir o grande dobermann que, irado, há de rosnar, à medida que me aproximo. Barulhos nas moitas. São eles. Desta vez se uniram, vão atacar em grupo, distribuídos, legionários. Não, ainda não. São maçãs que caem das sombras. Maçãs se perdendo, folhas secando, o vento magoando os olhos. O cão policial e o gigantesco dobermann não gostam de mim, não há como duvidar.

Mas eu os mato. Ah, se mato! Não fiz nada, fiz? Só porque passo na porta deles? Só porque sou estrangeiro? Vou matá-los em legítima defesa. As maçãs apodrecidas serão as minhas testemunhas. Vou matá-los. Quando me atacarem, sei que vou gelar, mas vou vencer o gelo. Hei de brigar dentro de mim mesmo pra vencer o medo, antes mesmo de brigar contra os dois leões. Eu os espero, mato os dois. Se tivesse um revólver atirava com gosto na goela deles, quando escancarassem as mandíbulas para me estraçalhar, aquele rosnado grosso me fazendo tremer as pernas.

 Atiro na goela, que é pra sair pelo rabo, cortando tudo, rasgando tudo, quero ver o sangue jorrando que nem petróleo, jorrando longe, esguichando pra todos os lados, quero gozar cada um dos uivos de dor. Eu os mato. Se não tiver revólver, vai de faca mesmo. Uma faca pontuda, punhal será, furando o pescoço de cima pra baixo, entrando de jeito a ficar cravado na boca, um poste espetado, nascendo de debaixo da língua. Espetado, com força.

Mato, mato sim. Sem remorso, sem dor de consciência. E mato até o dono, se ainda tiver coragem de reclamar. E, no meu desatino, sou capaz de matar até aquelas senhoras alvas, as velhinhas bondosas da Sociedade Protetora dos Animais. Ninguém tem o direito de me passar medo, ninguém mesmo. Mesmo que esses cães não ataquem, mesmo que sejam inofensivos, mandem esses bichos calarem a boca, escondam essas feras quando eu passo. Cachorros filhos duma égua! Seus donos pensam que mandam no mundo, que podem me passar medo? Só porque são gordos e bem nutridos e têm casas bonitas?

Escondam esses bichos, entupam a boca desses bichos ou aguentem as consequências. Não reconheço seu direito de me assustarem com seus cachorros de merda. Pra vocês, aqui meu elogio, meu cala-boca, minha adulação: está na ponta da faca ou no cano do revólver. É só escolher, é só dizer!

Série Copenhague Zero  Grau
Copenhague, Dinamarca/out/1979-
(publicado no jornal Município de Pitangui, em 28/09/1980)

William Santiago

Velhos tempos... Belos dias... Luiz Gonzaga de Mattos


 







Mexendo numa mala cheia de fotos antigas, lembranças de momentos da minha família, encontrei um convite amarelecido pelo tempo. Certamente dos distantes anos do início da década de 60. Era o convite para um baile no pequeno clube da cidade de Sengés, no interior do Paraná. Assim, como num tapete voador das histórias das Mil e Uma e Noites, viajei no tempo. Para animar meus devaneios liguei o som, com The Platters cantando Only you... e me senti dançando pelo pequeno salão do Olímpico.

Tardes de carnavais, das brincadeiras dançantes, dos bailes no Olímpico.
Do Olímpico que também dava bailes no velho campo ao lado do então Grupo Escolar.
Saudade do nosso Esporte Clube Olímpico, o ECO. Da camisa verde e amarela.
Das disputas com o Operário. Clubes vizinhos na mesma quadra. Separados apenas pelo ardor das disputas esportivas nos festivais reunindo os times do Miolo, Miolinho, Ouro Verde... E depois o churrasco sob os eucaliptos.
Tempos de um clube social e esportivo que marcou época em nossa região. Pelos seus bailes, pelo seu time. Um clube que recebia, em sua sede, as lideranças políticas nas convenções dos diretórios partidários. Que estava nas agendas dos estudantes com as solenidades de colação de grau. E que foi cenário de tantos romances. O clube de nossa juventude de tantas gerações.
Hoje, certamente, todos pensam com saudade de nosso Olímpico e lembram-se das
Jovens tardes de domingo
Tantas alegrias
Velhos tempos
Belos dias

 

Luiz Gonzaga de Mattos


JOSÉ BRASILEIREO VILANOVA E A LITERATURA NO BRASIL COLONIAL (III) - Manoel Neto Teixeira


 








O escritor e filólogo pernambucano José Brasileiro Vilanova, na sua obra A Literatura no Brasil Colonial, editora Universitária (UFPE), edição 1977, informa que do ponto de vista literário o século XVIII apresenta duas fases distintas: na primeira, predomina o academicismo inspirado no mecenatismo oficial português; na segunda, prevalece a reação neoclássica, de oposição ao barroquismo, representada principalmente pelos poetas do chamado “Grupo Mineiro”.

Mais da metade desse século caracteriza-se pelo prolongamento do espírito barroco e encontra nas Academias Literárias sua legítima forma de expressão. Pouco importa que elas tenham tido existência efêmera. Reunia intelectuais dissociados por atividades profissionais diferentes, orientando as pesquisas históricas e incentivando as produções poéticas, que evidenciam o espírito literário ainda do Brasil colonial.

Diz a mesma fonte que as composições em versos não vão além dos jogos de palavras, quase sempre artificiais ditadas sobretudo pelo desejo de vanglória e bajulação, principalmente relacionadas com figuras do status quo. Coube aos trabalhos, nascidos do academicismo, a ampliação desses limites, abarcando a vida política, religiosa, militar, genealógica e literária da Colônia.

“A partir da publicação das Obras Poéticas de Cláudio Manuel da Costa, em 1768 – diz Brasileiro Vilanova - e da fundação da Arcádia Ultramarina, é manifesta a reação neoclássica, tentativa de volta às fontes mais puras do classicismo. Adota-se, então, nova concepção estética, em que a simplicidade e a espontaneidade são elementos dominantes. Por isto mesmo - acrescenta - a vida e os seus problemas já não se prestam para divagações sutis da inteligência. Também a observação da realidade já não será usada como elemento capaz de impressionar os sentidos ou despertar imagens sensoriais. Procura-se, ao contrário, integrar o homem na natureza, possibilitando sua identificação com o meio em que vive e as coisas que o cercam”.

O retorno da literatura às fontes primitivas do classicismo explica a preferência pela poesia épica, satírica e pelo lirismo, não raro, de sentido moralizante, praticados no Brasil na segunda metade do século XVIII, acrescenta a mesma fonte.

Chega o tempo das Academias Literárias, já existentes em países europeus, desde o século XV. Em Portugal, surgiriam a partir do século XVII, destacando-se a dos Singulares, a dos Generosos e a dos Anônimos. No Brasil colonial, somente vão aparecer a partir do século XVIII, e tinham caráter oficial e eram de caráter metropolitano. Despertariam o interesse pelos estudos históricos, literários e dos problemas sociais.

A primeira Academia Literária foi fundada na Bahia, em 1724, e recebeu a denominação de Academia Brasileira dos Esquecidos. Seu fundador foi o vice-rei Vasco Fernandes de Menezes, o qual, “para dar a conhecer os talentos que nesta província floresceu, e por falta de exercícios literários, estavam como desconhecidos, determinou instituir uma academia. Durou apenas um ano e teve como principais sócios e fundadores e coronel Sebastião da Rocha Pita, o padre Gonçalo Soares da França, o dr. Inácio Figueiredo e Luiz de Siqueira da Gama. Essa academia chega a planejar o estudo da história do Brasil em quatro partes: natural, militar, eclesiástica e política.

A segunda academia teria surgido no Rio de Janeiro, em 1736, sob a denominação de Felizes, que funcionaria até 1740. Compunha-se de trinta sócios. Também sediada no Rio de Janeiro foi a Academia dos Seletos, em 1752, com o objetivo expresso de homenagear Gomes Freire de Andrade, nomeado para o cargo de Comissário e Árbitro Superintendente da Demarcação das Fronteiras do Sul. Teve como presidente o jesuíta Francisco de Faria e era secretariada por Manuel Tavares de Siqueira e Sá.

Outra entidade do gênero viria a ser criada na Bahia, em 1759, a Academia Brasílica dos Acadêmicos Renascidos, iniciativa de José Mascarenhas Pacheco Pereira de Melo. Sua organização tinha como modelo a Academia Real da História Portuguesa. Era constituída por quarenta sócios.

HISTORIOGRAFIA

As pesquisas histórias constituíam o principal objetivo das academias literárias baianas. Desde os primeiros tempos, aliás, consoante prova a contribuição dos jesuítas e dos cronistas, sempre houve no Brasil interesse pelas observações históricas. No século XVIII, mesmo antes de serem criadas as associações literárias, não diminuía a curiosidade pelos assuntos sobre história, diz Brasileiro Vilanova.

 A Academia dos Esquecidos teve como principal expoente o historiador Sebastião da Rocha Pinta, único a deixar obra impressa versando sobre Uma história da América Portuguesa, desde o seu descobrimento até o ano de 1724. E o fez, “em decadente estilo barroco”, segundo a crítica. Outro destaque para a Academia dos Renascidos, que teria influenciado os historiadores do século XVIII, cujas principais publicações foram: Dissertação sobre a história eclesiástica do Brasil, de Gonçalo Soares da França; A história militar do Brasil, de José Mirales; Desagravos do Brasil e glórias de Pernambuco, de Benedito Domingos de Loreto, na qual descreve pormenorizadamente a história da capitania de Pernambuco.

Outro destaque para a obra do pernambucano Frei Antônio de Santa Maria Jaboatão, com os títulos: Novo orbe seráfico brasílico ou crônica dos frades menores da província do Brasil. Autor ainda de um Catálogo genealógico, o frade franciscano não se limitou a escrever a história dos seus companheiros de Ordem, mas incluiu no seu livro, em estilo agradável, segundo a crítica, interessantes observações sobre a vida colonial, sem esquecer informações locais, lendas e tradições populares.

Descendente de bandeirantes, Pedro Taques de Almeida Pais Leme é considerado o primeiro genealogista brasileiro, autor de importante obra nesse campo do conhecimento: Nobiliarquia paulistana, história da capitania de São Vicente; Informações sobre as minas de São Paulo; e Notícias históricas da expulsão dos jesuítas de São Paulo. Produziu ainda Nobiliarquia paulistana, em que descreve as principais famílias paulistas e os mais notáveis feitos dos bandeirantes.

Outra obra que mereceu destaque, sob o título de Memórias para a história da capitania de São Vicente, do frei Gaspar da Madre de Deus, publicada em 1797, adotando métodos objetivos e positivos, segundo a crítica. Também, nessa mesma linha, resgistra-se a obra Cultura e opulência do Brasil, de André João Andreoni (Lisboa – 1791), versando sobre as minas existentes na Colônia, do processo de fabricação do açúcar, do plantio e beneficiamento do fumo. Fornece ainda informações sobre os emolumentos dados pelo Brasil a Portugal. A primeira edição de Cultura e opulência do Brasil foi sequestrada por ordem de D. João-V, sob a alegação de que o livro divulgava todos os segredos da Colônia brasileira aos estrangeiros.

POESIA LÍRICA

Houve nesse período uma abundante produção de poesia lírica, na segunda metade do século XVIII, porém, sem expressão literária, conforme a crítica. A grande preocupação estava voltada para a rima, em prejuízo de outros recursos e técnicas literárias. Exceção para a obra: Peregrino da américa, de Nuno Marques Pereira. A obra, dedicada ao mestre de campo Manuel Nunes Viana, famoso chefe dos emboabas, foi publicada em 1728 e já em 1730 merecia uma segunda edição. Houve quem visse nessa obra o primeiro romance nacional.

Afirma José Brasileiro Vilanova que os versos concebidos em toda a primeira metade do século XVIII não possuem expressão artística nem valor literário. O soneto de Antônio Antunes de Menezes, dedicado a Gomes Freire de Andrade, é uma prova desse estágio:

Vossa espera, senhor, se inculca deste

Que parece exceder de Polo, a Polo

Na cabeça se observa o mesmo Apolo,

Neste peito se admira o mesmo Marte.

            Três fatos principais distinguem, na segunda metade do século XVIII, a vida literária no Brasil. Um deles é a influência do enciclopedismo francês, através das duas sociedades culturais fundadas no Rio de Janeiro: a Academia Científica e a Sociedade Literária, as quais, na realidade, reuniam mais cientistas do que literatos, conforme os registros. Instalada sob a proteção do Marquês do Lavradio, em 1772, dedicou-se aos estudos da medicina, física, química, história natural e agricultura.

            Refere-se também José Brasileiro Vilanova ao arcadismo que teria sido iniciado por Claudio Manuel da Costa, com grande influência nesse período. Ele escreveu sonetos, epicédios, epístolas e fábulas em que se admira sobretudo a perfeição formal. Árcade na linguagem, temática e na técnica. “De todos os representantes do chamado Grupo Mineiro, Tomás Antônio Gonzaga foi “o mavioso Dirceu, o maior lírico”. Suas obras completas foram editadas pelo Instituto Nacional do Livro.

             A epopeia é a narração, em versos, de atos heroicos, de caráter real ou imaginário. “Depois do sucesso obtido pelos clássicos europeus, e da repercussão de Os Lusíadas, em Portugal, os autores brasileiros, sempre sôfregos em imitar os literatos portugueses, não poderiam deixar de explorar o aspecto épico da poesia. Assim, houve manifestações típicas na Colônia, devendo ser assinalados Basílio da Gama, com o Uruguai; Durão, com o Caramuru; e Claudio Manuel da Costa, com Vila Rica”.

            “Caramuru – diz Brasileiro Vilanova - é um poema heroico em dez cantos de oitava rima e versos decassílabos, no qual, os episódios mais importantes, significativos, são demasiadamente extensos, em face da imitação camoniana”.

            Enquanto o Desertor das Letras, de Silva Alvarenga, poema heroico-cômico, teve o objetivo de elogiar a reforma universitária pombalina, as Cartas Chilenas, de   Gonzaga, inauguram a sátira política brasileira. Foram publicadas, pela primeira vez, em número de sete, na revista “Minerva Brasiliense”, em 1845.

            POESIA POPULAR

            Finalmente, não poderia faltar o braço da poesia popular brasileira, com Domingos Caldas Barbosa, autor de cantigas, modinhas, cantatas etc., colecionadas com o título de Viola de Lereno. Foi poeta popular, improvisador ao som da viola, com temáticas brasileiras onde não faltava o sensualismo amoroso. Os versos de Caldas Barbosa foram publicados em Lisboa e, 1798.

            Nos comentários finais de sua obra, José Brasileiro Vilanova diz: “É costume citar alguns nomes de autores, nos fins do século XVIII, contando-se entre eles o dicionarista Morais, Matias Aires e Teresa Margarida, considerada a primeira romancista brasileira. De importância real, deve ser feita referência a Antônio Morais e Silva, que foi o primeiro brasileiro a sistematizar um Dicionário da Língua Portuguesa. O livro tem dois volumes e sua publicação verificou-se em Lisboa, em 1789. É um verdadeiro documento da língua nacional no século XVIII. Em 1922, comemorativo do primeiro centenário da Independência do Brasil, foi divulgada edição fac-similar dessa obra”.

                        (Manoel Neto Teixeira é autor, dentre outras, da obra Garanhuns, Álbum do Novo Milênio (1811-2016, e membro da Academia Pernambucana de Letras Jurídicas).

E-mail: polysneto@yahoo.com.br 

sexta-feira, 27 de novembro de 2020

A ESCOLA PÓS-PANDEMIA É na educação dos filhos que se revelam as virtudes dos pais. Coelho Neto


             






Começo nosso artigo sobre educação citando o escritor, filosofo, romancista e teatrólogo maranhense Henrique Maximiano Coelho Neto. Antes do tema, quero falar do brilhante papel da família nesse momento. Tenho certeza absoluta que muitos pais não sabiam da capacidade que têm na arte de educar. Então, ouso dizer: se esse momento atual trouxe algo de bom, foi a ligação familiar onde, mais do que nunca, todos se envolveram com o ensino e a ligação entre pais e filhos passou a ser melhor. É verdade que como educador ouvi algumas poucas reclamações, mas, tive a alegria de ver avós com idade bem avançada aprendendo números primos, pais, já maduros, dizendo que até que enfim aprenderam a diferença entre objeto direto e indireto. O que mais me chamou a atenção foi aquele casal de amigos que brigava por tudo e, por necessidade, em clima de paz, sentar para estudar, compreender e dividir com o filho o conhecimento da Tabela Periódica. Com isso a famosa frase: “não há mal que não traga um bem” pode ser escrita de forma prática dentro de muitos lares.

Verdade que vamos ter um processo de atraso no conhecimento globalizado durante algum tempo, a partir do momento em que as escolas tiveram que ser fechadas. Porém, é inegável dizer que tivemos um avanço educacional grande, pois sabemos que as aulas a distância, o ensino remoto e a aprendizagem on-line já estavam presentes, mesmo que forma tímida, em nossas vidas. E, com a pandemia, tiveram um impulso surpreendente. E o que já estava começando a ser comum no ensino superior foi utilizado até na educação infantil, pois a crianças anteciparam, de forma rápida, o seu acesso aos computadores, tablets e celulares. Fazendo eu rir da minha própria imagem que proibia os alunos levarem celular para a escola, há anos. Agora tenho que implorar para que os pais permitam aos seus filhos o acesso a todas essas ferramentas eletrônicas com a finalidade de facilitar o tão famoso processo ensino-aprendizagem.

Nesse sentindo é preciso uma atitude das escolas e uma compreensão por parte dos pais: aceitar as ferramentas que vieram para ficar e que serão importantes, a partir de agora. Foi preciso que os professores antecipassem sua aprendizagem e incorporassem o mais rápido possível esses novos métodos e os pais voltassem a estudar de forma objetiva e avançada para que os filhos também compreendessem a nova educação. Não devemos esquecer que, infelizmente, por uma questão econômica, apenas 60% dos alunos tiveram acesso as novas modalidades de ensino. Temos que nos preparar para estas mudanças causadas pela pandemia, que vieram para ficar. Sabemos que os costumes incorporados com o novo normal passaram a ser definitivos nas nossas vidas, no Brasil e em todos os outros países.

Vejamos, então, algumas das tendências que ficarão nas nossas casas e escolas no pós-pandemia. Lembrando que pode variar de região e de um país para outro, dependendo, logicamente, da cultura de cada local.

Ensino híbrido

É definido como uma modalidade de ensino que mescla o presencial com o virtual, ou seja, conta com aulas fora e dentro da escola. Assim, o estudante terá mais autonomia e uma velocidade de aprendizagem diferente. Devendo utilizar as ferramentas virtuais para aumentar a sua agilidade. Essa nova modalidade é centrada no aluno e na família.

Ensino não presencial

Evidentemente que aqui falamos das aulas para cursos superiores. Esse processo já estava sendo usado antes da pandemia, mais a nível médio e fundamental. É uma novidade nas escolas brasileiras, pois é uma inovação atípica criada nesse momento e que veio para ficar. É importante destacar que isso não significa que as aulas presenciais serão totalmente substituídas pelas virtuais. No entanto, é um caminho que se abre para que as escolas e as famílias entendam que o aprendizado também pode acontecer fora da sala de aula.

Uso de recursos tecnológicos

Sem o uso da tecnologia o impacto da pandemia na vida estudantil teria sido muito maior. Graças a aplicativos para postagem de conteúdos e plataformas de reunião online, os alunos puderem continuar tendo aula, sem sair de casa. Foi com base nesses recursos que tivemos condição de enfrentar, educacionalmente, a pandemia. Sendo importante, nesse momento, os Sistemas de Ensino, e as escolas que já os adotavam saíram na frente, facilitando a aprendizagem. Contudo, houve a necessidade que os professores tivessem um treinamento para melhor conhecer. Houve adaptação para todos.

Valorização da cidadania

A cidadania sempre foi um conceito trabalhado na maioria das escolas. No entanto, os estudantes nunca tiveram oportunidade de entender o real significado de boas práticas na sociedade, como agora. Nesses novos tempos todos tiveram que aprender a importância do bem estar comum e, acima de tudo, saber que nossas atitudes têm um grande sentido para o próximo. Usar máscara, lavar as mãos, manter distância, serão incorporadas as nossas novas atitudes e de forma definitiva. Esperamos que esse fato passe para a história, não somente como um momento de milhares de mortes, mas, um tempo que melhorou a relação entre os homens.

Aumento da solidariedade

Durante a pandemia muitas pessoas perderam os seus entes queridos e outras tantas os empregos, tendo as finanças abaladas. Isso pode ter causado traumas, preocupações, inseguranças e angústias para essas famílias. Então, vimos um grande aumento da solidariedade humana, e a escola foi fundamental nesse momento. Vamos continuar ensinando aos nossos alunos e filhos que precisamos, mais do que nunca, cuidar não somente da gente, mas também uns dos outros. Agora ficou bem claro que a educação pós-pandemia alterou nossos pontos de vistas estruturais e socioemocionais. Daí, precisamos, também, preparar uma nova escola para um novo aluno, sabendo que ele vem de uma nova família. Só assim teremos sucesso nesse novo tempo.

Prof. Albérico Luiz Fernandes Vilela

Membro da Academia Pernambucana de Educadores

Membro da União Brasileira de Escritores

Membro do Lions Club Internacional

Diretor Pedagógico da UNIC – Universidade da Criança

Palestrante da Área de Educação

quarta-feira, 25 de novembro de 2020

Arriete Rangel de Abreu

 

                          

Até quando?

Enquanto durar

Sem data, hora e lugar

Indefinido é o estar

De cada amanhã.

Se nascer o novo dia

De alegria ou agonia

Continuar!

A estrada é permanente

Temporários somos nós

Até a finitude chegar. 


sexta-feira, 20 de novembro de 2020

Incrível: Kondras Kanillis está em Panelas! - José Alexandre Saraiva


            







Nada mais me espanta nesse mundo de surpresas inimagináveis! Principalmente depois que o Gerson Bientinez driblou a turma aqui em baixo e se mandou para a cobertura, a convite de amigos que lá se instalaram antes, entre eles Waltel Branco, Tatara, Saul Trumpet, Daniel Saxofonista, Ivo Rodrigues e Ivan Graciano.

Pois bem. Os leitores mais antigos da Gazeta do Povo lembram-se bem do guru Kondras Kanillis, o marinheiro grego que, inexplicavelmente, foi parar na mística e histórica Lapa, recanto paranaense sem ligação com o mar. A cidade ganhou notoriedade nacional no chamado Cerco da Lapa, por resistir heroicamente ao exército de Gumercindo Saraiva, em 1894, no auge da Revolução Federalista, retardando a marcha dos maragatos. Tanto pelo passado aguerrido do seu povo quanto pelos vultos de homens ilustres que legou ao mundo, a Lapa tem lugar de destaque nas páginas da História.

Vamos à última do Kondras Kanillis. Como se sabe, ele tinha como único confidente o jornalista Antonio Carlos Lacerda, o querido Caco, que fazia desfilar em sua coluna “O fato político” reflexões do sábio marinheiro sobre filosofia e política. Entre as qualidades do Kondras, ele nunca errou um resultado das urnas. Um dia, assim como surgiu, do nada sumiu da Lapa, juntamente com seu secretário especial, Osnírio.  

 Eis que hoje pela manhã o Caco me telefona para dizer que recebeu uma carta do Kondras. 

Garantiu-me que ele está morando na minha terra natal, Panelas, nome oficial de Labiata. O município está localizado numa área serrana do interior de Pernambuco, entre a zona da mata sul e o agreste. A região está muito mais para o sertão do que para o mar. Ainda segundo Caco, Kondras adquiriu lá um sítio entre os lugares Queimada do Milho e Feijão, próximo às vilas de Cruzes e São Lázaro. Ele continua o marinheiro terrestre de sempre, viajando em busca de si mesmo. Disse ao Caco que no seu retorno à Grécia vivenciou uma experiência desagradável com o ex-amigo Onassis, por causa de uma ciumeira idiota daquele armador bilionário, que alimentava desconfiança com a atenção que a Jacqueline Kennedy Onassis lhe dispensava. Chateado, resolveu refugiar-se num lugar que, além de ficar longe do mar, não deveria existir no mapa. À época, com auxílio da Nasa, descobriu Panelas. Kondras sempre quis conhecer Panelas. De acordo com Caco, o guru tinha três motivos para essa aventura. Primeiro, entender melhor a Guerra dos Cabanos, ali travada na década de 1830. Segundo, concluir um estudo sobre o movimento migratório dos holandeses que se refugiaram no interior nordestino durante a perseguição portuguesa. O sítio Feijão teria sido o esconderijo predileto deles no município. Terceiro, curiosidade para saber se o topônimo Panelas tem origem na descoberta de igaçabas indígenas no sopé da Serra da Bica (por isso, o primeiro nome, Olho D’Água das Panelas) ou no fato de a cidade localizar-se entre três serras (da Bica, dos Timóteo e do Boqueirão), cujos formatos lembrariam trempes de uma panela. Kondras descartou de plano essa segunda  possibilidade. As supostas trempes, na melhor das hipóteses, estariam ligadas a uma só panela (no singular).  

Numa deferência especial, ontem à noite Caco me enviou por Whatsapp o trecho final da carta de Kondras. Por coincidência, fala do momento político em Panelas:

“Aqui, depois de muito tempo, haverá renovação política. Tudo porque o líder do grupo que comanda o município há 25 anos andou cometendo erros primários e imperdoáveis. São exemplos: 1. Em um programa de rádio, chamou de hiena o povo da oposição, e os professores, de incautos. Chamar o povo de hiena na terra que realiza a maior corrida de jericos do Brasil é ofensa que nem o próprio jumento pode aceitar. Por outro lado, os professores são bem conceituados. 2. Sem licença ambiental, aterrou o açude da cidade, um belo patrimônio paisagístico e memorialístico. Aterrar um açude no Nordeste é vilipêndio à Natureza que só perde para o crime de matar uma vaca na Índia, onde é considerada animal sagrado. Se lá, na Índia, a vaca é dádiva de Deus, podendo passear livremente pelas ruas, aqui no Nordeste do Padre Cícero Romão Batista nada mais sagrado do que ver água deslizando no leito de um rio, ainda mais se ele tem histórico de enchentes caudalosas, como o Rio Panelas, que tantas vacas já dessedentou. 3. Em áudio vasado no Whatsapp, ele, que é de fora, mandou recado para um opositor afastar-se do seu caminho. Ora, todos os caminhos do município de Panelas são dos panelenses, nativos ou adotivos, como é o meu caso e do Osnírio (aqui chamado de “Galego” por causa da aparência de polaco). 4. Trocou, sem autorização legal, o nome da tradicional Praça Dr. Manoel Borba (que homenageia um dos mais ilustres pernambucanos), para agradar a família de outro político. Agiu como se denominações de praças e logradouros públicos tivessem caráter provisório e não dependessem de lei. 5. Num surto raivoso, danificou, pessoalmente, instalações do açougue público, outro símbolo da cidade. 6. Permitiu que sua candidata à reeleição insistisse em dizer publicamente que é laranja dele. Nesses dias de campanha, ela se empolgou e foi além: proclamou que tem orgulho pessoal de ser laranja e salada mista do padrinho político! Uma confissão nunca vista antes, nem na Grécia, berço da filosofia e da democracia, nem no restante do mundo ocidental!”

Kondras prossegue: 

“Sei que já estou te cansando nesta nota final da carta, mas é preciso deixar cravado, a bem da minha reputação, que a eleição deste ano em Panelas será decidida pelos estudantes e pela massa de jovens que há muitos anos não têm oportunidade de emprego. Boa parte do eleitorado vota na situação para não perder um miserável auxílio de 300 dinheiros. Esse contingente de votos é grande, mas insuficiente para suplantar o restante do eleitorado, independente e progressista, hoje empenhado na libertação de um sistema político-administrativo guiado pelo mandonismo e pelo assistencialismo. Por isso mesmo, nos bastidores da política, onde Osnírio transita com liberdade (minha luneta sonora registra tudo do alto da Serra dos Timóteo), fala-se que, tão logo seja conhecido o resultado das eleições, será necessário criar uma equipe de transição só para regularizar a situação dos contratos irregulares. De fato, em vez de uma ação de caça às bruxas, urge valorizar o servidor dedicado e competente. De acordo com Ruben, o futuro prefeito, que é um advogado jovem, líder dos trabalhadores rurais, humilde, sereno e conciliador, todos são, como ele, filhos da terra. Portanto, uma dispensa generalizada dos funcionários apadrinhados está descartada. Segundo ele, é preciso separar o joio do trigo para não causar comoção social, tamanha é a quantidade de funcionários sem concurso que dependem da prefeitura para sustentar a família. A melhor política é fazer valer a meritocracia.

Sobre o Osnírio:

O Osnírio anda meio besta! E isto desde a conclusão de um curso de culinária em Paris – o que, diga-se de passagem, me levou à obesidade, pois ele continua fazendo a comida mais saborosa da terra e dos mares por onde já navegamos. Não bastando, passou a se achar filólogo do dialeto matuto. Está terminando um dicionário com expressões e vocábulos locais, do tipo: “eita bixiga”, “pra mode”, “oxente”, "vixi", fidapeste”, “inhô”, “priquita”, “quenga”, “trubufu”, “pra tu, visse!”, “fidirrapariga”, “mangar”, “amulegar”, “abufelado”, “tabaca”, “tabica”, “cambito”, “xêxo”, “amudiçado”, “inxirido”, “bilola”, “cachete”, “cafuçu” “entonce”, “cambuta” e quejandos. Pasme: também quer me dar lição de política! Diz que a eleição em Panelas pode ser decidida na zona rural, um território realmente imenso (apenas 10% menor que toda a área do município de Curitiba). Foi nele que a Nasa resolveu deixar o meu iate, onde moro, já que o açude virou esgoto a céu aberto.  O Osnírio diz isso (que a eleição será decidida na zona rural) porque, conforme a estação do ano, a quantidade de cabrestos nos sítios supera as favas e os jerimuns que nascem nos roçados. Nesse ponto ele tem razão, mas comete um erro vitando: os matutos fizeram muitos filhos nesses últimos 25 anos. Os jovens, como é próprio da idade, são rebeldes, alimentam sonhos, são inovadores. E graças à internet, estão com as mentes afinadas com a “alegoria da caverna”, do compatriota Platão, nascido em Atenas. Esse sentimento de libertação ganhou impulso excepcional com a recente e emblemática adesão da ex-diretora de turismo da prefeitura, Elielma Santos, ao programa de governo do futuro prefeito. Ela, de conduta retilínea, formada em História e fotógrafa apaixonada pela Natureza, desfruta de muito prestígio no município. Além desse mar de água fria nas pretensões da situação, o movimento pró-renovação ganhou vigor poético e musical a partir da circulação de um vídeo com o canto “Brio Cabano”, do poeta Biu Difulô. A propósito (e para deixar Platão de queixo caído), um dos versos remete à minha brava Esparta. Veja:   

NOSSO SANGUE É CABANO

TEMOS NA VEIA MUITO ARDOR

NOSSOS PUNHOS ESPARTANOS

NUNCA TEMERAM O INVASOR

NOSSOS BRIOS DE GUERREIRO

QUE A HISTÓRIA JÁ PROVOU

JAMAIS SE VENDEM À TIRANIA

TÊM VIRTUDE E ESPLENDOR.  


Fico por aqui, visse! (rsrsrs). 

Xêro do KK.”

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Como se vê, eu morro e não vejo tudo. Kondras Kanillis em Panelas!

SOBRE GONÇALVES DIAS - DIRCEU RABELO

 

 

Seu canto ainda vibra nas palmeiras

onde outrora cantavam sabiás.

que ali trinavam pelas derradeiras

horas da madrugada. Como atrás,

 

as suas aves não gorjeiam mais.

O canto  teve fim, mas a lembrança

daquele alvorecer, breve, fugaz,

ficou naquela aurora de esperança.

 

Seu canto eterno é triste como o sino,

como triste também foi seu destino

de não voltar à terra em que nasceu.

 

dele se foi matéria só, no entanto,

a intemporalidade do encanto


que há na voz do seu verso não morreu.