quarta-feira, 30 de junho de 2021

Poema escrito durante a epidemia de peste em 1800 - K. O ' Meara

 “Quando a tempestade passar,

as estradas se amansarem,

E formos sobreviventes

de um naufrágio coletivo,

Com o coração choroso

e o destino abençoado

Nós nos sentiremos bem-aventurados

Só por estarmos vivos.

 

E nós daremos um abraço ao primeiro desconhecido

E elogiaremos a sorte de manter um amigo.

 

E aí nós vamos lembrar tudo aquilo que perdemos e de uma vez aprenderemos tudo o que não aprendemos.

 

Não teremos mais inveja pois todos sofreram.

Não teremos mais o coração endurecido

Seremos todos mais compassivos.

 

Valerá mais o que é de todos do  que o que eu nunca consegui.

Seremos mais generosos

E muito mais comprometidos

 

Nós entenderemos o quão frágeis somos, e o que

significa estarmos vivos!

Vamos sentir empatia por quem está e por quem se foi.

 

Sentiremos falta do velho que pedia esmola no mercado, que nós nunca  soubemos o nome e sempre esteve ao nosso lado.

 

E talvez o velho pobre fosse Deus disfarçado...

Mas você nunca perguntou o nome dele

Porque  estava com pressa...

 

E tudo será milagre!

E tudo será um legado

E a vida que ganhamos será respeitada!

 

Quando a tempestade passar

Eu te peço Deus, com tristeza ,

Que você nos torne melhores.

como você nos sonhou.

Não há sombra que o sol não vença - José Alexandre Saraiva


 







Saberei te esperar. E quando esse dia chegar, meus postes nostálgicos não faltarão com o alumio dourado no tapete de patit-pavé para saudar o teu caminhar. Verás que não te esqueci. No teu regresso, minhas lojas, meu Bondinho, minhas bancas de revistas, meus restaurantes, meus bancos, meus cafezinhos, meus escritórios, meus prédios neogóticos e art decó estarão no lugar de sempre e de portas abertas para te receber. Ouvirás o mesmo canto dos meus passarinhos e voltarás a te encantar com o mesmo esplendor de minhas cerejeiras, de meus canteiros e de minhas sávias em flor. Saberei te esperar. Não há sombra que o sol não vença. Ass. A tua Rua das

Flores. (foto:xyagosousax/amigosdecuritiba)




quarta-feira, 16 de junho de 2021

Reflexões - João Marques


 







A grande descoberta.

Não é através do conhecimento das estrelas, e dos estudos da ciência, e das línguas e das histórias, que se vá atingir a maior sabedoria. Quando o homem se organizar melhor, e se voltar para dentro de si mesmo, descobrirá o tesouro que carrega, silencioso, nos recônditos de sua origem.


Silêncio que dignifica.

Vão-se os amigos, os parentes, as paisagens mudam, e fica a ausência, que não significa plenamente vazio. As presenças, os acontecimentos, os momentos de alegria, os abraços, todos se vão, e fica o silêncio refletindo tudo. Verdade, nada acaba; fica no espaço, na expansão da existência, o que passa e permanece vivo na sensibilidade dos que amam.

quarta-feira, 9 de junho de 2021

"Sinais na Janela", luz na Pandemia - William Santiago


 






“Eu sou eu e minha circunstância, se não a salvo não me salvo” (José Ortega y Gasset, filósofo espanhol)

“No tédio do isolamento, qualquer coisa é muita coisa” (Maiara Santiago, prisioneira da Pandemia)
_____
 
     Samuel e Karminha estão perdidos numa noite de Quarentena, na Barra Funda, bairro da maior cidade da América do Sul. Uma noite num apartamento pequeno não é nada, mas muitas noites num apartamento pequeno e moradores pressionados pela Pandemia podem levar qualquer um ao   limite.
     
     São Paulo tem seus parques, shoppings, teatros, cinemas, artistas por todo lado, porém, limitados pelas medidas restritivas da Pandemia, Samuel e Karminha não podem fazer muito por si mesmos. Como a situação dá muito tempo livre, dão asas à criatividade. Daí sai um sistema para aproximar moradores dos prédios em volta. Samuel e Karminha talvez conheçam Ortega y Gasset, talvez não. Mas sabem intuitivamente que somos determinados pelas proximidades, ou seja, pelas circunstâncias e nelas temos que achar soluções. Pois é o que Samuel engenha: começa a observar os vizinhos a partir da janela do seu apartamento. Observa um, outro, outro, a curiosidade ataca na Pandemia. Temos tão pouco a fazer que qualquer novidade é um achado.
   
     Samuel está num 12° andar. Imagina isso: como não tem mar nem garrafa para enviar uma mensagem ao desconhecido, põe um cartaz na janela: INSTA. Passam dias, ninguém responde.
     
     Maiara e Filipe, também no 12° andar, percebem algo desenhado/escrito naquela janela. No princípio, ficam desconfiados. O que pode ser?  Maiara, querendo desvendar o mistério, rabisca na sua janela: ESCREVE MAIOR. Logo fazem o contato, conhecem-se no jardim do condomínio e, dias depois, estão se comunicando no Instagram. A iniciativa de Samuel, gerada pela ansiedade do momento presente, acaba fazendo vizinhos se aproximarem e tornar menos angustiante a vida na Quarentena. De sua iniciativa, apoiada por Maiara e Filipe, logo surge o grupo de WhatsApp “Sinais na Janela”, que passa a encontrar-se no jardim do condomínio, respeitando os protocolos sanitários. Em poucos dias, novas ideias aparecem:
     
     - Vamos tomar cerveja na janela?
     
      E tomam, fazendo sinais com mãos e braços ou mandando código “Morse” pelo celular.
     
     Outro dia, Maiara participa de um “brunch a distância”. Amigos de Brasília, São Paulo e Porto Velho se encontram e trocam figurinhas pelo celular.

      E Maiara acrescenta:
     
      - Meu pai inventou o "Boteco Virtual". Senta no sofá em casa, faz chamada de vídeo pelo WhatsApp e toma cerveja com um primo de Palmas –TO e um amigo de Catalão, GO, como se estivessem num boteco presencial.  Mas a conversa não precisa necessariamente ser regada a álcool. Já com amigo de Maravilhas, MG, abstêmio atualmente, o combustível é a Lteratura. Embebedam-se de Machado de Assis, Dante Alighieri, Carlos Drummond de Andrade, Cora Coralina e outros/as. Da conversa, rolam muitas ideias para os contos e crônicas de um e trovas e sonetos de outro. O próximo passo é criar a “live no Boteco” com mais participantes e temas variados.
     
     De outras turmas pipocam outras ideias. Os torcedores de futebol, por exemplo. Pois não é que já inventaram a “ Home Arena”? Combinam de ajuntar-se numa plataforma qualquer e assistirem a jogos decisivos do campeonato paulista. Mas duvido se já não há mineiros e cariocas pensando nisso? Vamos fazer desse limão uma limonada, galera.
     
     Fica aí, portanto, pelo menos um crédito para a Pandemia: faz com que vizinhos que jamais se conheceriam numa cidade grande, em plena “normalidade”, se encontrem e iniciem uma amizade que desafoga a pressão deste momento tenebroso. É também possível que seja amizade duradoura e dure até depois disso tudo, por que não? Vivendo, sofrendo e aprendendo. Parabéns, “Sinais na Janela”!

 


NO REMANSO DA MEMÓRIA - Luiz Gonzaga de Mattos


 







     Nas enchentes dos rios, as ramagens sobre as águas vão, mansamente, se encostando aqui e ali. Assim parece ser a memória. O tempo vai acumulando momentos em nossas vidas e, de um instante para outro, recordações vão chegando e se aninhando naquela curva chamada saudade. Se num rio o redemoinho das águas dá espaço por pouco tempo ao que chega, o atropelo do dia a dia vai limpando a curva da saudade. Ontem, sem agito nesses dias quarentenais, ocupei o tempo vendo antigos escritos e velhas fotos com personagens que sacudiram a ramagem das curvas da saudade e se mostraram vivas em minha memória.
Lembrei-me de uma “hora da saudade” com amigos de adolescência e juventude da cidade de Sengés, no interior paranaense. Como local do encontro, marcamos a cidade de Ponta Grossa para facilitar a presença da maioria do grupo. No início de maio, há oito anos, nos reunimos. Vai aqui um excerto do texto escrito após a confraternização:
     

     Assim é a saudade verdadeira. E não poderia ser diferente ao vermos nossos amigos de uma época saudosa. Por isso tudo valeu a pena nosso encontro. Momentos em que fomos transportados para outros tempos, onde a nossa preocupação não era com o amanhã. Vivíamos o hoje, curtíamos o agora e hoje sofremos com o ontem. Porque trazer a saudade no peito é estar onde não podemos estar. E isto, ao voltar à realidade, vemos que os cachos dourados dos cabelos do Jamil foram tomados pela calvície; o tapete do Tico desapareceu completamente... Assim é a vida. E essa vida nos dá satisfação quando podemos rever amigos. Daí, ao vivo, sai aquela imagem desbotada pelo tempo e ressurge com esplendor a da convivência. Como se o tempo não tivesse passado. Quando inexiste o binômio saudade-amizade é porque não havia amigo. Aí, sim, a saudade machuca. Felizmente deste mal não sofremos. Abraços a cada um de vocês que me deram o prazer deste encontro. Até o próximo!


LEVANDO A SÉRIO A PANDEMIA - João Marques


 







Mas, levando a sério, o vírus veio com sua agressividade. Não só isso, trouxe benefícios, também. Do mal, da mortandade, da fome, todo o mundo de bom senso sabe. E é a essas pessoas, de bom senso, que dirijo o comentário. E é o grande problema humano, o bom senso, maior que a pandemia, certamente. De certeza, os vetores humanos que trouxeram o vírus do Exterior, e contaminaram todo o mundo. As pessoas que, irresponsavelmente, não têm cuidado com o contágio, e andam sem máscaras e aglomeram-se. O Presidente! Esses dão testemunho evidente do atraso em que se encontra, ainda, a humanidade. As populações crescem, mas falta o espírito de coletividade, de amor ao próximo, de valorização da vida dos outros. Assim foi, assim é. E como é sabido, popularmente, que todo o mal traz um bem, falemos, aqui, de uns, os principais.

     Sabe-se, agora, que a ciência não garante solução imediata para o que possa surgir de risco no mundo. E nem há prevenção para tudo. Nem a ciência, nem os recursos técnicos alcançados, nem o dinheiro, por último. O mundo é passível de quaisquer desastres, que possam abalar a humanidade. Não há autossuficiência em termos de coletividade. Conscientização que chega como alerta aos que se propõem a conduzir a prevenção e a segurança de todos. O que falta ou faltava.

     Há de se considerar, também, entre os aspectos mais positivos, o enfrentamento. Sobretudo, a entrega dos profissionais de saúde. E muitos, arriscando a vida, pereceram heroicamente. Grande testemunho e afirmativa da vocação profissional.  E, também, considere-se outros profissionais que não arredaram o pé. Comportamentos esses, afirmativos na edificação da credibilidade humana.

     Há de se respirar, livre, amenizado o perigo da pandemia. E ficará a memória de tudo. O mal e o bem. E como de tudo na vida, das situações mais difíceis, fica sempre uma experiência benfazeja. O mundo resistiu, pelas pessoas de bom senso. E interessante é constatar que todas as pessoas foram envolvidas. Todas as classes e atividades. Daí, os mais diferentes resultados. Pessoas de bem, crápulas e oportunistas, também. Há de ser chorados os parentes, os amigos, todos que infelizmente não resistiram. Mas há de se contarem os que, de pé, triunfaram. “E assim caminha a humanidade”, como no filme, e que caminhe sempre, cá, na realidade, com a prevalência dos bons comportamentos... Sério!


quarta-feira, 2 de junho de 2021

INCURSÕES SOBRE OS 500 ANOS DE BRASIL - Manoel Neto Teixeira


 






Como jornalista e professor universitário, não tenho dúvida em recomendar a leitura do livro História do BRASIL (para ocupados), editora Leya Brasil-SP, edição 2020. Organizado pelo escritor e editor Luciano Figueiredo, a obra compõe-se de 70 ensaios assinados por historiadores e pesquisadores de reconhecida capacidade, versando sobre os vários aspectos que permeiam a nossa História, nas suas dimensões territoriais, antropológicas, econômicas, sociopolíticas e culturais. O Brasil Colônia, Império e República, portanto 500 anos de embates e caminhadas.

Diferente da maioria das publicações, concebidas de forma quase sempre monocrática, História do BRASIL (para ocupados) compõe-se de seis capítulos na seguinte ordem: 1 – Pátria descoberta; 2 – Fé e a ordem cristã; 3 – Poder; 4 – Povo; 5 – Guerra; 6 – Construtores.

A leitura dessa obra corrige falhas, omissões e lacunas da História oficial, ministrada nas escolas, de canto a canto do país, por professores (as), quase sempre leigos, que se limitam a transmitir as lições dos livros didáticos concebidos sob a ótica dos “vencedores”, conforme assinala o jurisconsulto Raimundo Faoro, no seu clássico Os Donos do Poder.

 A obra desdobra-se na seguinte ordem, com os títulos e respectivos autores:

DESCOBERTAS: Quem descobriu o Brasil – Joaquim Romero de Magalhães; O nome Brasil – Laura de Mello e Souza (pgs. 16 a 21).

ENTRE BÁRBAROS: Canibais e corsários: canibalismo para alemão ver – Rinald Raminelli; Bandeiras indígenas – John Monteiro; Invasão francesa – Maria Fernanda Bicalho (pgs.  29 a 41).

O TRÁFEGO NEGREIRO: Sem Angola não há Brasil – Luiz Felipe de Alencastro; Traficante chachá – Alberto da Costa e Silva (pgs. 46 a 50).

ÁFRICA NO BRASIL: Os mistérios da rosa – Luiz Mott; Candoblé para todos – João José Reis; Capoeira mata um – Carlos Eugênio Líbano (pgs. 56 a 73).

AMAZÔNIA E FANTASIA: Nasce a Amazônia – Rafael Chambouleyron; Louco, aventureiro e místico – Chris Burden (pgs. 81 a 86).

FÉ – A ORDEM CRISTÃ: Exércitos de Cristo – Ronaldo Vainfas; Compromisso entre irmãos – Caio Boshi (pgs. 98 a 103).

SANTOS E SANTAS: Santo Guerreiro – Georgina Silva dos Santos; Santa e Padroeira – Juliana Beatriz Almeida de Sara; Salve Anastácia - Mônica Dias de Souza (pgs. 109 a 119).

DEMÔNIOS E TUMBAS: Vade retro – Marcia Moisés Ribeiro; Feitiços e feiticeiros – Daniella Bruno Calainho (pgs. 133 a 137).

MISTÉRIOS E CONCILIAÇÃO: Maçonaria na luta – Marco Morel; Kardec entre nós – Emerson Giumbelli (pgs. 133 a 128).

PODER – INVESTIMENTOS E CAPITAIS:  Civilização de açúcar – Ana Maria da Silva Moura; Ouro de tolo – Ângelo Carrara; Ciclo do café – Sheila de Castro Faria (pgs.146 a 157).

NOVA ORDEM, VELHOS PACTOS: Além do café com leite – Claudia M. R. Viscardi; O que querem os tenentes? – Marieta de Moraes Ferreira; Mudança de comando – Marly de Almeida Gomes Viana (pgs. 165 a 177).

FASCISMO VERDE-AMARELO: Segurança nacional – Maria Luiza Tucci Carneiro; Nazismo tropical – René E. Gestz (pgs. 181 a 187).

GOLPE MILITAR, VIOLÊNCIA E EXCLUSÃO: Nos porões  do Estado Novo – José Murilo de Carvalho; 1964: golpe militar ou civil? – Daniel Aarão Reis; 1968: um ano chave – Lucilia de Almeida Neves Delgado (pgs. 192 a 202).

POVO: D. JOÃO DE PASSAGEM: Todos a bordo! – Lília Moritz Schwarez; Qie rei sou eu? – Lúcia Maria Bastos P. Neves e Guilherme Pereira das Neves; Sempre Carlota – Francisca Nogueira de Azevedo (pgs. 210 a 225).

D. PEDRO-I, ARDENTE e CORTESÃO: O indiscreto “demonão” – Mary Del Priore; Leopoldina, a austríaca que amava o Brasil – Clóvis Bulcão (pgs. 231 a 235).

D. PEDRO-II e a ULTIMA CORTE: A República de Dom Pedro-II – José Murilo de Carvalho; O reinado de Isabel – Robert Daibert Júnior (pgs. 244 a 247).

O MAU LADRÃO: Ficha suja – Eduardo Bueno; A arte da subtração – Ronaldo Vainfas; Basta de corrupção – José Murilo de Carvalho (pgs. 253 a 263).

SEXUALIDADES MESTIÇAS: “Não existe pecado do lado de baixo do Equador” – Ronaldo Vainfas; Santo ofício da homofobia – Luiz Mott; Um caldeirão de amores – Mary Del Priore (pgs. 269 a 284).

HUMORES E SABORES: Pinga da boa – Luciano Figueiredo; Sabores da colônia – Paula Pinto e Silva (pgs.288 a 294).

GUERRA: OPRESSÃO COLONIAL: Índios, hereges e rebeldes – Ronaldo Vainfas; Fim de jogo em Guararapes – Rômulo Luiz Xavier do Nascimento; Pobres, rudes e ameaçadores – Laura de Mello e Souza; Quilombo de um novo tipo – João José Resi (pgs. 302 a 318).

SANGUE NAS PROVÍNCIAS: A Bahia pela liberdade – Hendrik Kraay; Farrapos com a faca na bota – Sandra Jatahi Pesavento; Insurreição praeira – Marcos de Carvalho; A Guerra de Canudos à sombra da República – Jacqueline Hermann (pgs. 325 a 340).

ABOLIÇÃO E A REPÚBLICA DESIGUAL: Flores da liberdade – Eduardo Silva; O povo contra a vacina – José Murilo de Carvalho; Abaixo a chibata – Marco Morel (pgs. 347 a 359).

GUERRA NA AMÉRICA E NA EUROPA: Paraguai: guerra maldita – Francisco Doratioto Nas trincheiras contra Hítler – Luis Felipe da Silva Neves (pgs. 363 a 369).

CONSTRUTORES ENTRE DOIS MUNDOS: Maurício do Brasil – Evaldo Cabral de Mello; Chica da silva além do mito – Júnia Ferreira Furtado; José Bonifácio inconformado – Ana Cristina Araújo (pgs. 376 a 388).

GUARDIÕES: Maria Quitéria vai à guerra – Patrícina Valim; Osório em toda a parte – Francisco Doratioto; Quem desenhou o Brasil – Rubens Recúpero; Fé na taba – LorelaiKury (pgs. 393 a 408).

A PALAVRA E O GESTO: Muitos Gregórios – João Adolfo Hansen; Machado entre letras e números – Gustavo Franco; Coma palavra, Lima Barreto – Beatriz Resende (pgs. 414 a 426).

INVENTORES: Oswald à vista – Renato Cordeiro Gomes; A invenção da MPB – João Máximo; “O meu pai era paulista”... – Francisco Alambert (pgs. 431 a 447).

LIDERANÇAS: Vargas exemplar – Ângela de Castro; Um presidente bossa nova – Marly Motta (pgs. 454 a 460).

SONHADORES: Palavra de Tiradentes – Tarcísio de Souza Gaspar; O marinheiro e seus bordados – José Murilo de Carvalho; O herói da floresta – Kenneth Maxwell (pgs. 466 a 476).

Faço minhas as palavras do organizador e editor dessa obra, Luciano Figueiredo, em um dos tópicos da sua Apresentação, por sintetizar a sua abrangência e conteúdo:

“A forma inovadora de abordar o passado neste livro combina com essa vivência contemporânea ao oferecer uma visão à História do Brasil arranjada como um caleidoscópio. Cerca de setenta brilhantes historiadores contam passagens singulares da formação do país, resgatando os grandes acontecimentos e passagens, trazendo à tona dramas coletivos e individuais com enorme conhecimento de causa e muita sensibilidade. Tudo isso em uma leitura prazerosa, com que se esmiuçam detalhes pitorescos e fatos curiosos. Nada daquela impostação professoral, nada de jargões ou trechos indecifráveis”.

Para entendermos melhor o Brasil de hoje, urge uma volta às últimas décadas do século XIX (fim da escravidão e do Império) e à primeira do século XX, já na República, com a leitura de História do BRASIL (para ocupados), precisamente o ensaio “O povo contra a vacina”, do escritor José Murilo de Carvalho, às pgs. 352 a 358.

Rio de Janeiro, então com seus 800 mil habitantes, era tomada pelos vírus da febre amarela, peste bubônica, tuberculose, malária, tifo e outras enfermidades, a fazerem milhares de vítimas. O então presidente da República, Rodrigues Alves, convoca o sanitarista Oswaldo Cruz, a quem incumbe criar as condições para livrar a população dessas moléstias. Surge daí a vacina contra a febre amarela e o Governo decreta a obrigatoriedade da vacinação para todos. Surge incontinenti fortes reações contrárias, com passeatas e toda sorte de reações contrárias, mexendo inclusive com as Forças Armadas. A intensidade das reações contrárias à vacinação levou o presidente Rodrigues Alves a decretar “Estado de Sítio”.  

Leitura que recomendo, repito, aos três níveis de ensino e a quantos precisam e gostariam de saber mais e melhor sobre a História desse gigante chamado Brasil.

(Manoel Neto Teixeira, jornalista e escritor, é membro, dentre outras, da Academia Pernambucana de Letras Jurídicas – cadeira 44). E-mail: polysneto@yahoo.com.br